O HOMEM
Stephen Edwin King é um escritor, roteirista e contista norte-americano, nascido em Portland, em 21 de setembro de 1947. A sua mãe chegou a trabalhar num instituto psiquiátrico como cuidadora, e o pai, que era marinheiro, um dua desapareceu, ficando ela a tomar conta da família. Este facto terá pesado no seu psiquismo. Tinha mais um irmão e viveram em vários Estados até voltarem ao Maine em 1958.
Passando por muitas dificuldades, King rapidamente se tornou adulto, aos 11 anos escrevia num jornal escolar. Já a frequentar o liceu, publicou com o seu maior amigo Chris Chester 18 contos. Usa já títulos muito sugestivos, dando uma imagem daquilo que viria a ser com o: O Hotel no outro lado da Estrada, A Coisa no Fundo do Poço, A Expedição Amaldiçoada ou O Outro Lado do Nevoeiro. Mais tarde publicou um livro em duas partes, The Stars Invaders, e colaborou numa revista.
Em 1966 acabou o ensino liceal, e, através de uma bolsa entrou para a universidade. Apesar da sua facilidade em escrever, os seus interesses dispersavam-se por diversos assuntos, era um aluno médio. Ainda muito jovem escreveu o seu primeiro romance, The Long Walk”, em que depositou grandes esperanças, mas o livro foi rejeitado pelo editor. Em 1970 concluiu o curso universitário para ensinar no ensino médio. Porém, não arranjou logo colocação e chegou a trabalhar numa bomba de gasolina.
Em 1971 casou-se com Tabitha Jane Spruce e entrou como professor no ensino na Hampden Academy. O casal mudou-se então para a cidade de Hermon no Estado Nova Iorque. Ainda no ensino começou a trabalhar num conto a que chamou Caritta White, mas aborreceu-se do livro, que lhe pareceu desinteressante, indigno do seu estatuto, e deitou as folhas ao lixo. Porém, a esposa leu a história, achou-a interessante e pediu-lhe para ele o continuar.
Em 1973 ele dava-a por concluída com o nome de Carrie. Recebeu adiantados 2.500 dólares, e posteriormente mais 200.000, estava lançado na vida literária, isto permitia-lhe sair do ensino. Contudo, seria a partir da adaptação de alguns das suas obras ao cinema que ganharia mais projeção. A partir daqui afirma-se como escritor e guionista. Depois de tantos êxitos literários continua a viver naquela cidade, escrevendo fora de casa.
Em 1999 sofreu um grave acidente. Foi atropelado quando seguia a pé numa estrada por uma carrinha ou van. Chegou a recear-se o pior, ele sofreu perfuração num pulmão, partiu algumas costelas, fraturou uma perna e a anca. Como um herói saído dos seus romances, milagrosamente, depois de várias operações, ao fim de três semanas tinha alta do hospital e regressava a casa para continuar a trabalhar.
É considerado um mestre dos livros de terror, um tema que não tem muitos criadores, que ele trata magistralmente. Algumas das suas obras passaram a filme ou foram adaptadas à televisão, dando uma grande notoriedade aos seus romances. Recebeu, entre outros, em 2004 o World Fantasy Award, em 2007, o Mystery Writers of America, e em 2015 a Medalha Nacional das Artes do National Endowment for the Arts. O seu âxito literário tem-lhe permitido obter grandes recursos, com os quais tem subsidiado instituições de caridade e de interesse cultural. A esposa Tabitha também escreve e partilha com ele três filhos (dois filhos e uma filha).
A OBRA
A sua obra é vasta, abrange a ficção sobrenatural e científica e obras de suspense e terror próximas do género policial. Ele já escreveu mais de sessenta romances explorando os temas atrás referidos, para além de centenas de contos, livros e fantasia, ou mesmo obras fora da ficção. Já vendeu mais 400 milhões de exemplares de livros, foi traduzido em mais de quarenta países e adaptado ao cinema e à televisão. A lista completa consta nalgumas das suas biografias e na Wikipédia. Vamos citar aqui só alguns, os mais significativos que os leitores podem começar a ler:
– Carrie (Carrie, a Estranha/Carrie) (1974)
– Salem’s Lot (Salem’/A Hora do Vampiro) (1975)
– The Shinning (O Iluminado) 1977
– The Stand (A Dança da Morte) (1978)
– The Dad Zone (A Zona Morta/Zona Mortal) (1979)
– The Firestarter (A Incendiária) (1980)
– Cujo (Cujo/Cão Raivoso) (1981)
– Pet Sematary (O Cemiterio de Animais) (1983)
– Doctor Sleep (Dr. Sono) (1983)
– The Dark Tower Series (A Série da Torre Negra) (1983)
– It (A Coisa) (1986)
– Misery (Angústia) (1987)
– Gerald’s Game (Jogo Perigoso) (1992)
– The Green Mile (À Espera de Um Milagre) (1996)
– Bag of Bones (Saco de Ossos) (1998)
– The Lisey’s Story (A História de Lisey) (2006)
– Duma Key (A Maldição) 2008)
– Under the Dome (Sob a Redoma/A Cúpula) (2009)
– Mr. Mercedes (O Sr. Mercedes) (2014)
– The Institute (O Instituto) (2019)
a. O ROMANCE The Shining
Wendy (Winifred Torrance): A esposa de Jack e mãe de Danny. Jack e Wendy conheceram-se na faculdade e ela foi morar com ele depois da mãe a expulsar de casa. Wendy tem uma história difícil com a mãe, que a culpa do divórcio com seu pai. Quando Wendy se casou com Jack não compareceu ao casamento. O primeiro ano de casamento de Jack e Wendy foi o mais feliz, até que Jack começou a beber depois de Danny nascer. A bebida de Jack era uma fonte constante de preocupações para Wendy, que chegou a considerar divorciar-se dele quando, estando bêbado partiu um braço a Danny. E a situação ainda se agravou quando ele agrediu um aluno e foi suspenso da escola em que lecionava. Aceitou, porém, ir com Jack para o Overlook Hotel, onde ele conseguiu um emprego como guarda de inverno. Talvez aquele retiro lhe fizesse bem. As primeiras semanas no hotel são pacíficas. Ainda assim está preocupada com Danny e os seus ataques catatônicos. Quando o fantasma do quarto 217 tenta estrangular Danny, deixando fortes hematomas no seu pescoço, suspeita de Jack. Ela chegou a pensar em levar o seu filho montanha abaixo em segurança, quando fica claro que Jack estava a ficar louco e planeava matá-los. Ao fim conseguiu do hotel com o filho, ajudada por Dick.
Dick Hallorann: É o chefe de cozinha do hotel, que antes de ele fechar leva o casal Torrance e o filho a darem uma volta pelas instalações. Fala com Danny e confessa-lhe que tem como ele, qualidades telepáticas, e quando quiser pode comunicar-se com ele. Mais tarde, já longe daquele local é contactado por Danny, que lhe conta que o pai, influenciado pelos espíritos maus do hotel constitui um perigo para ele. É então que Dick, no meio de grandes dificuldades volta ao hotel para salvar Danny e a mãe de Jack, e os três se afastam dali depois do hotel se ter incendiado com o pai lá dentro.
Stuart Ullman: O gerente do hotel, um homem gordo e mesquinho, odiado pelo pessoal. Jack Torrance aparece com a família mais cedo do que esperava, encontrando ali ainda muito movimento, sendo mal recebido por aquele, que conhecia o seu passado. Depois de estar a contar o dinheiro das receitas do hotel com o rececionista, dá com Jack uma volta às instalações, mostrando-lhes a suíte presidencial. Antes de sair fica aborrecido por um funcionário ainda estar no átrio do hotel. Ele queria ser o último a sair. É contactado mais tarde por Jack para escrever um livro sobre o hotel, o que o deixa furioso, diligencia mesmo, sem sucesso, para que ele seja afastado daquelas funções.
Horace Derwent: Era o dono do Hotel Overlook em 1945, tendo sido o responsável pela sua restauração. Andou envolvido na morte de um tal Roger num baile de máscaras ali realizado, personagem que ficou a infernizar o local. Não se sabe se estará vivo ou morto. Na mente de Jack talvez seja ele o verdadeiro gerente do hotel ou o próprio diabo em pessoa.
Tony: É um amigo imaginário de Danny. No princípio do livro parece real, mas para o fim desvanece-se, residirá, pois, na mente do menino. É um espírito bonomioso que consegue ver acontecimentos passados e prever os futuros. Tony será portanto uma reconstrução de Danny já adulto, a querer ajudá-lo, é Daniel Anthony Torrance.
George Hatfield: Ex-aluno de Jack, que ao ser excluído de uma sua equipa de debates lhe furou os pneus do carro. Jack bateu-lhe, ferindo-o com gravidade, o que levou o conselho disciplinar da escola a suspendê-lo enquanto se fazia o processo.
b. Breve resumo (vai ser um pouco mais longo do que tencionava para incluir todos os capítulos)
Jack Torrance é professor numa escola de ensino médio na Nova Inglaterra. É casado com Wendy e tem um filho de cinco anos, Danny. É um pai extremoso, mas com a bebida torna-se violento, tendo partido um braço ao filho quando este lhe mexeu nuns papéis e batido numa criança da sua escola por esta lhe ter furado os pneus do carro. O conselho escolar suspendeu-o de funções até investigar o caso. A esposa chegou a considerar por essa altura o divórcio. Um seu amigo, Al Shockley, alcoólatra em recuperação, arranja-lhe um emprego ocasional como vigilante e zelador no Hotel Overlook, no Colorado, que fechava durante o inverno. Ao chegar lá é entrevistado por Stuart Ulmann, o gerente do hotel, que conhecendo o seu passado, o recebe com frieza. Conta-lhe que o anterior vigilante matara a família no hotel. Watson, o encarregado da manutenção do hotel foi-lhe mostrar a casa das máquinas e advertiu-o para a necessidade de controlar dos níveis de água e o termostato da caldeira, que sendo velha, deixada sem controlo poderia explodir e destruir o hotel.
Jack lembrou-se então de quando fora ao escritório e vira que Danny lhe remexera nas gavetas e lhe batera, a ponto de lhe partir um braço. A mulher teve de o levar ao hospital. Aquilo foi lamentável. Watson continuou o périplo pelo hotel, falando-lhe agora dos seus antigos donos, dos escândalos que ali ocorreram, do seu passado tenebroso. Como Jack se mostrasse admirado, reiterou-lhe que todos os hotéis têm os seus fantasmas.
Danny era um menino dotado de faculdades paranormais – vivia no país das sombras. Tinha um amigo imaginário, a que chamava Toy, que de vez em quando ouvia. Teve por essa altura algumas visões e conseguiu ler a palavra OINÍSSASSA, o contrário de assassínio, cujo significado desconhecia. Jack recorda-se de uma viagem que fizera de carro com o seu amigo dos copos, Al Shockley, e de um acidente que tiveram com um triciclo na estrada, não socorrendo o sinistrado. Normalmente, quando se encontravam corriam os bares todos da cidade. Por aquela altura ainda controlava a bebida. Pediu em casamento Wendy, e mais tarde tiveram o filho. No hotel, Danny acorda com Tony a gritar por si. Vem à janela ver o que é. Não vê nada e regressa à cama, vendo espelhada na escuridão em tons vermelhos a palavra OINÍSSASSA.
Parte II
O último dia desta parte será o da viagem para o Overlook. O autor volta para trás no romance. Wendy está preocupada, Jack diz que estava quase a chegar e por fim avistam o hotel, que Tony já tinha prevenido Danny ter ali havido um assassinato. Entram, lá dentro há uma grande azáfama. Stuart Ullmann, o gerente, só se mostrou simpático para Danny. Dick Hallorann, o cozinheiro negro, foi mostrar o hotel a Wendy e ao filho. Detiveram-se na cozinha e na despensa. A eles se junta Jack. Falam dos Watson, antigos donos do hotel. Pouco depois Hallorann vai buscar as malas para as pôr no carro e regressar à Flórida. Segue com Danny, a quem diz que ele tem muito “brilho”, isto é, faculdades de um iluminado. Falam de assuntos como se ele fosse já adulto. O menino confessa-lhe que sonha acordado, quando se depara com Tony. Hallorann pergunta depois aos pais quem é esse Tony, e eles dizem-lhe que é o seu amigo invisível. Numa conversa que Hallorann e Danny têm a sós, o menino confessa-lhe que aquele “brilho” toma às vezes a forma de pesadelo, mas que não quer contar a pai. Hallorann confessa-lhe que o dia em que tivera mais “brilho” fora quando antevira um comboio a descarrilhar, onde ia o seu irmão. Explica-lhe que as pessoas “brilham” por verem as coisas que vão acontecer ou já aconteceram. Os pais vão entretanto dar uma volta pelo hotel. Dick Hallorann termina aquela conversa dizendo a Danny que ali ninguém lhe fará mal, mas se ele tiver algum problema, que chame por ele. Pressupõe-se que os dois possuem qualidades telepáticas.
O átrio do hotel ficou então quase deserto, para além deles estavam ali apenas o gerente, Stuart Ullman e o rececionista, duas criadas e Watson, encarregado da manutenção. O gerente levou o casal a dar uma volta pelo hotel, fazendo-lhes algumas recomendações. Passaram pelo elevador, que disse ser seguro embora Jack não se mostrasse tão certo disso, pois também diziam o mesmo do Titanic. Danny seguia com ele e viu sangue nas paredes de um daqueles quartos. Não quis alertar os pais, pois eles não podiam ver isto. O senhor Ullmann levou-os depois à suíte presidencial, mostrou-lhe dois quartos, mas não entrou no 217. Já no átrio, Watson despediu-se de Ulmann até ao dia doze de maio, quando entraria a época alta. Watson, cujos antepassados chegaram ser donos do hotel, seguiu depois com o seu carro pela estrada fora. Danny sentiu-se então muito só. Estavam os quatro debaixo do coberto em frente do hotel. Ullman perguntou se Jack já tinha as chaves e estava bem instruído acerca da caldeira, ao que ele deu uma resposta afirmativa, e pouco depois seguiu no seu Lincoln Continental para a Flórida. Ficaria ali apenas a pick-up do hotel e o WW de Jack. Estava frio e entraram para o átrio do hotel, onde havia uma lareira acesa.
Parte III
O Overlook não era um lugar amigável. Disso se deu conta Jack, quando deu com um ninho de vespas no telhado. Dali a vista era deslumbrante e começou a pensar na peça de teatro que andava a escrever. No dia 20 de outubro foi à cidade fazer as compras de Natal, embora ainda fosse cedo. Volta ao telhado para destruir as vespas, que ainda o voltaram a ferrar. Lembra-se de Al Shokley, como ele alcoólico, e de George Hatfield, seu ex-aluno, que era gago mas se parecia com Robert Bedford. Wendy vai à cidade às compras, e por momentos aquela família é feliz. Jack voltou-se então para os seus livros e para a máquina de escrever. Tinha trazido para ali o ninho de vespas, aparentemente inerte. Entretanto Danny vai à casa de banho e demora-se lá uma eternidade. A mãe estranhou o caso e chama por ele, que não responde. Fica assustada. Vem o pai e ameaça estroncar a porta. Por fim o miúdo abre a porta e diz ter estado a falar com Tony, tendo visto por lá a palavra OINÍSSASSA. Os pais resolvem então levar o filho ao médico no dia seguinte. Mas estão no quarto e o miúdo e a mulher são picados por vespas. Ora ela era alérgica e o filho também podia ser. Começaram a odiar o Overlook. Vão ao médico com Danny. Este pergunta-lhe por Tony, e Danny diz que o vê sempre ao longe, que deve ter pelo menos onze anos. Faz então várias perguntas ao menino e troca impressões com os pais, para ele é normal haver crianças com esquizofrenia.
No dia primeiro de novembro Wendy sai com o filho passear à volta do hotel. Jack vai à cave fazer o controlo habitual. Dá então com um álbum de recortes relativos ao hotel e uma pilha de livros. Começa a ler e deu-se conta que tinha ali havido um baile de máscaras, onde se falou da Morte Vermelha. Descobriu que aquele hotel tinha sido lugar de crimes hediondos. Houve ali também um suicídio, o de Grady. Pensou então no que lhe disse Watson: todos os hotéis têm os seus fantasmas. No dia seguinte Danny ficou com a mãe, enquanto Jack volta aos seus afazeres. A mãe ficou satisfeita ao ouvir o filho dizer que já não tinha sonhos maus. Voltam ao hotel, e pouco depois Danny ficou só e veio-lhe à ideia ir ao quarto 217, que Hallorann lhe aconselhara a não entrar. Verifica então que todo o ambiente ali lhe é hostil, inclusive uma mangueira, que se mostra com um aspeto ameaçador. Entretanto, Jack telefona a Dick Hallorann a dizer que ia escrever um livro sobre o hotel, o que aquele se opõe ferozmente. Quis mesmo substitui-lo no lugar, só não o conseguindo por Al Stockley ter intervindo a favor dele. Wendy continuava preocupada com a situação do marido. Tinha medo que ele voltasse à bebida, e o mesmo receio tinha Danny, a quem ensombrava a palavra OINÍSSASSA.
Certo dia Wendy vai com o filho à cidade a um parque infantil. Conduzia uma velha carripana do hotel, onde tocavam no rádio os Credence Clearwater Revival, que a mãe pedir para desligar. Danny manifesta-lhe o desejo de saírem do Hotel Overlook, mas ela dissuade-o, pois o pai não podia perder o emprego. Entretanto, na sebe, Jack tentava aparar os animais ali esculpidos a partir de arbustos. Também eles parecem animados de vida. Quando a mulher chega ao coberto do hotel começa a nevar, mas está tudo bem. A seguir Wendy foi tricotear um cachecol para o quarto, Jack vai à cave fazer os seus controlos, onde sente que tudo ali é ameaçador. O filho vai de novo ao quarto 217. Ao tentar abrir a porta ouve repetidamente: CORTEM-LHE A CABEÇA. Entra, e depara-se com um cadáver de mulher na banheira. Tem um rosto arroxeado e um aspeto aterrador. Ele deu um grito e fugiu. Já cá fora, de olhos fechados e punhos cerrados, disse para si mesmo: NÃO HÁ ALI NADA.
Parte IV
Isolado pela neve no país dos sonhos, Jack à noite tem pesadelos e vê o espetro do pai a afrontá-lo. Grita de aflição, e com isso acorda Wendy, que vem dar com ele no escritório. Vão então ter com o filho, que também está sobressaltado e tentam acalmar. Jack desce a seguir ao rés-do-chão e algo o perturba: vem-lhe à mente vislumbres da Morte Vermelha. O seu passado de bêbado atormenta-o. Danny aparece-lhe a gritar assustado, dizendo que foi ela. Ela quem? Wendy acompanhava-o, e Jack levou o filho para a cozinha para o serenar. Ele viu qualquer coisa na banheira que o perturbou. Jack sai com o argumento de ter de ir trabalhar, e vai ao quarto 217 ver o que se passa. Achou ali o ambiente perturbador, mas a banheira estava vazia. Voltou à cozinha e disse à mulher que não estava lá nada. Vão para o quarto. Jack está a pensar em continuar o seu livro. A mulher mostra-se preocupada com os arranhões que o filho tem no pescoço, desconfia que ele lhe tivesse feito qualquer coisa. O menino parece catatónico, isto é, aparenta ter uma rigidez excessiva.
Jack adormece e tem sonhos tenebrosos com George Hatfield, o seu ex-aluno. Acordou com um grito e foi verificar a caldeira. Passou pela arrecadação e viu a mota de neve. Pairam sobre a sua cabeça ideias tenebrosas. Em 29 de novembro, três dias depois do dia de Ação de Graças, estava bem e andou cá por fora, onde se sentia mais leve, livre de responsabilidades. Danny desceu até ao parque infantil do hotel. Ali sentiu-se vigiado por seres sobrenaturais e teve uma experiência medonha num túnel. Chegou ao coberto do hotel a chorar com um rasgão nas calças. No átrio do hotel, onde ardia uma fogueira, tentam acalmar o filho, que conta parte do que se passou lá em baixo no parque. À noite vão para o quarto e ouvem um barulho estranho. Jack explica que é o elevador, talvez movido por um curto-circuito. Vão ver e deparam-se com fenómenos macabros. Tony andava por ali a dar indicações a Danny. Este, no primeiro dia de dezembro vai ao salão de baile e pressente que aquele espaço é possuído por outras vidas. A Morte Vermelha passou por ali. Viu um vulto a persegui-lo e fugiu dele, mas foi deter-se numa redoma de vidro, onde estava espelhada a palavra ASSASSINO. Aquele ambiente parecia-lhe ameaçador. Foi então que, desesperado, voltou a clamar pela vinda de Dick Hallorrann.
Parte V
Na Flórida, o velho cozinheiro sentiu o chamado de Danny: – OH DICK, POR FAVOR, VEM. Era com se alguém tivesse apontado uma arma psíquica à sua cabeça. Vai ter com o patrão pedir três dias de dispensa e corre com o seu Cadillac para o Overlook. Vem-lhe à sua mente episódios macabros passados no quarto 217, quando a senhora Massey, uma criada, ficara histérica e fora despedida por vir contar tudo cá para fora. Aquele incidente destabilizara o hotel. Vai de carro tentar apanhar um avião. Seguia em certo ponto do trajeto em excesso de velocidade e um polícia mandou-o parar. Já não chegou a tempo. Um chamamento ecoou de novo na sua cabeça: VEM POR FAVOR, DICK! No hotel Danny tinha um lábio inchado. Wendy pensou que tivesse sido o marido a fazer aquilo, mas foi o próprio filho que a desmentiu. Este confessou-lhe que chamou por Tony, mas que ele não veio, não o deixaram. Diz-lhe que há coisas no hotel a induzir o pai a fazer-lhes mal.
Jack Torrance estava na cave, no seu pensamento surgiu-lhe o aviso de que se a temperatura da caldeira subisse demasiadamente corriam perigo. Foi fazer um controlo à fornalha e a caldeira atingira os 14 bares. Ouviu então uma voz: – Esquece, deixa a Wendy e o Danny e vai-te daqui embora. Mas ele tinha a sua dignidade e começou a repensar episódios da sua vida com o pai e os seus três irmãos. Lembrou-se que tinha feito com Wendy feito um seguro elevado, no caso de lhes acontecer qualquer coisa. Danny acordou de um pesadelo terrível, e olhou para as sebes e elas estavam com um aspeto horripilante. Dentro da sua cabeça ouviu uma voz pronunciar: SAI DA MENTE DELE, CABRÃOZINHO. De repente vê um homem-cão de olhos avermelhados. E o mais terrível de tudo foi ameaçar ir comê-lo. O espírito do Overlook apoderara-se do pai. Foi então que voltou a chamar: DICK, VEM DEPRESSA QUE ESTAMOS EM APUROS. Entretanto, depois de ter perdido um avião, Hallorann consegue arranjar lugar noutro da TWA. Está preocupado com o pedido de ajuda de Danny.
Entretanto, Jack Torrance sente-se habitar o Hotel Overlook nos seus tempos áureos, quando houve ali um baile de máscaras, num tempo em que havia grandes festas. Nessa manhã os quartos estavam todos ocupados. O bar tinha sido reabastecido de bebidas, e elas eram por conta da casa. Assim diisse para ele o barista Loyde. Estas personagens já tinham morrido há muito tempo, mas movimentavam-se ali cheios de vida, entre os quais Grady, que se tinha suicidado. Riam-se de Danny, e pareciam querer trazê-lo para o seu domínio. Jack a certo ponto ouviu no Salão Colorado alguém pedir para deixarem cair as máscaras. A Morte Vermelha pairava sobre todos eles. Chamou por Grady, que não respondeu. Fugiu então dali mas caiu e perdeu os sentidos. Por fim recuperou-os arrastando-se na leve. Eram oito e meia da manhã.
Por sua vez, Dick Hallorann toma o avião da TWA e uma mulher começou a gritar, dizendo que o avião ia cair. Passaram por dois poços de ar e ela logo o confirmou, dizendo que já sabia que aquilo ia acontecer. O ambiente no avião era perturbador. Uma hospedeira foi tentar acalmá-la. Estava enjoado. Quando desceu por entre as nuvens lembrou-se de um desastre recente de avião e temeu-se. Cá fora nevava. Por fim o avião aterrou e parou no terminal. Mas ainda era preciso passar na portagem e levantar as bagagens. E precisava de alugar um automóvel. Lá conseguiu partir, mas ainda iria encontrar uma estrada fechada ao trânsito devido à neve. Voltou para trás, tinha de comprar nalgum sítio umas correntes para passar por aquela neve. Chegou à área urbana de Denver e a polícia aconselhou-o a não se meter a caminho.
Por volta do meio-dia, Wendy, com Danny na casa de banho desceu à cozinha para fazer o almoço. Não sabia onde estava o marido. Chamou por ele e não obteve resposta. Parecia-lhe ver ali Hallorann. Tentou controlar-se e foi fazer a refeição. Voltou a chamar pelo marido e ouviu um gemido indefinido no bar. Espreitou lá para dentro, vendo-o no chão, bêbado com um cacho. Ele tinha encontrado bebidas na despensa. Entram em diálogo, mas ele está transtornado, tem um sorriso malévolo e dirige-se-lhe em termos ameaçadores. Fala-lhe de Grady. Receia que ele a vá matar, e a seguir ao filho. Jack pôs mesmo as mãos no pescoço de Wendy. Danny apareceu a gritar: – Papá, para! Estás a magoar a mamã. Wendy deu-se então conta que os espíritos do hotel se apoderaram deles. Ela conseguiu por fim libertar-se dele, e com a ajuda do filho fechou-o na despensa. Ele gritou para o tirarem dali. Eram três da tarde e Danny andava cá fora a brincar quando ouve o pai a gritar na despensa. A mãe chora, não sabe como resolver situação. Tem, contudo, a esperança que o Hallorann ou outra pessoa qualquer passem por ali e os ajudem. Às quatro e meia o dia escurece e o elevador começa a funcionar. Acordaram e no hotel parecia ter reaberto ao público. Ela receou que Jack tivesse saído da despensa. Ele já teria recuperado da bebedeira. Está sentado na despensa a comer bolachas. Verificou que bebera demais, e ele com a bebida fazia disparates. Começou então a pensar na educação severa que o pai lhe dera, a ele e aos irmãos. Pressente Grady estar da parte de fora da despensa e pede-lhe para sair. Este exige que ele lhe traga o filho, o que promete. Wendy iria opor-se, e ele tinha de matá-la. Conseguiu arrombar a porta e pareceu ouvir lá de dentro dele a voz de Grady: – Cumpra a promessa, senhor Torrance.
Eram duas da tarde Dick Hallorann tentar chegar com o seu Buick ao Hotel, mas com o nevão que fazia estava a ter dificuldade. Encontrou um limpa-neves que ainda o ajudou, mas a sua experiência em conduzir naquelas circunstâncias era pouca. A esta hora Wendy estava no quarto a olhar para Danny, que adormecera. No hotel andava tudo numa roda-viva, as portas abriam-se e fechavam-se, o elevador descia e subia, voltara a ter vida, aquilo era medonho. Ouviu as doze badaladas do relógio e alguém gritou: – Tirem as máscaras. Todas as luzes do salão de baile se acenderam. Jack apareceu então com um maço para a matar. Ela conseguiu defender-se, embora ficasse ferida, fugindo a custo pela escadaria. No hotel, Wendy conseguiu fechar Jack no terceiro andar e fugiu para uma casa de banho, onde se trancou. Contudo, ele conseguiu libertar-se e vai tentar arrombá-la com um maço.
Já perto do hotel, Hallorann caiu da mota, um leão persegue-o. Ele só o conseguiu afastar quando lhe lançou gasolina e lhe deitou fogo. Chega finamente ao Overlook e chama por Danny, pensando que teria chegado tarde demais. Mas ele ainda ali estava. Tony chama por Danny, e é aqui que se revela como o seu Ego adulto. Danny foge por aqueles corredores até que se depara com o pai. Wendy vai à procura do filho. Hallorann já o teria encontrado? Deu com ele e foram ao terceiro andar à procura de Danny. Jack estava tentando matar Danny a pedido de Grady. Quando o filho exclama que ele não é o seu pai deixa então cair o maço na passadeira e diz para o filho: – Foge Danny, e lembra-te que gosto muito de ti. Danny diz que a caldeira não era controlada desde há dias e que ia explodir. O miúdo desceu a seguir em direção à escadaria, onde sentiu a presença de Hallorann. Os três fugiram do local. Jack corre para a caldeira para ainda a controlar, mas ela explodiu com ele lá dentro, pegando fogo ao hotel, que ardeu completamente. Hallorann, Wendy e Danny descem até à cidade mais próxima na mota de neve. Wendy ia a desfalecer, e foi com alívio que Hallorann chegou ao consultório do doutor Edmonds para a tratar.
Epílogo
Dick Hallorann arranjou emprego num Resort do Maine por influência de Al Shokley. Um dia chega lá, vê Wendy sentada numa cadeira de baloiço a ler um livro. Está a recuperar dos ferimentos sofridos no Hotel Overlook. Recebera um avultado seguro pela morte do marido e vive sem grandes dificuldades. Conversam os dois amenamente. Ela diz-lhe o filho está melhor, já tem menos pesadelos, embora os incidentes lá passados ainda pesem na sua mente. Danny está a pescar, e vão os dois ter com ele. Hallorann abraça-o. Danny ainda é ajudado por ele a tirar da água um peixe maior. Há entre os dois uma grande afinidade. Danny tem saudades do pai, mas aceita-o como figura paternal.
c. Comentário Geral
The Shining tem muito de autobiográfico. Foi uma espécie de catarse que Stephen King fez a si próprio, quando teve problemas com o álcool e viu que estava a pôr em perigo a sua carreira e a própria família. Tendo ficado cedo sem a mãe, dá indicações de ter tido uma educação bastante rígida por parte do pai. Foi um processo que o autor encetou para se moderar não só no consumo de álcool, como também no controlo da violência, que o apoquentaram durante uma década. Ele se inspirou no Stanley Hotel do Colorado, quando por lá passou em 1974 como único ocupante e teve uma experiência menos agradável.
O livro é fortemente influenciado pela atmosfera de A Máscara da Morte Vermelha de Edgar Allan Poe, e isto não tem nada de pejorativo, pois Poe era e é uma referência neste tipo de histórias. King, embora cultivando um género com poucos criadores, que recorre predominantemente ao absurdo e ao horror, de início não teve muita aceitação, mas a passagem de algumas das suas obras para o cinema, de que se destaca The Shining, rapidamente o tornaram mundialmente conhecido. Também terá influências de Goya, que ao pintar as suas águas-fortes, denominadas Follies, explora as fronteiras entre a realidade e o sonho.
As três personagens do livro completam-se: Wendy é bela, sensível, maternal, mas ao mesmo tempo corajosa, a âncora daquela família. Jack é um pai extremoso, que a bebida torna irresponsável e violento, passível de ser tomado pelos espíritos malignos. De um momento para outro passa de pessoa responsável a alienado, e por fim a um potencial assassino. Danny é um menino sobredotado, dotado de faculdades paranormais, com o tal “brilho” que faz dele um iluminado, um vidente, capaz de prever acontecimentos futuros e ver os passados.
A adaptação deste romance ao cinema por Stanley Kubrick deu projeção a este livro. O filme excederá em mestria o livro, pois é considerado, no género um dos melhores filmes de sempre. Para isto também terá contribuído a excelente representação de Jack Nicholson. Inicialmente o filme não foi muito bem recebido por King, por Kubrick não ter explorado o problema da desintegração familiar e pôr o acento tónico da obra em Jack, em vez de Danny. Kubrick quis potenciar o efeito terrificante do filme em vez de explorar o seu lado social, que seria menos comercial. Todavia, Stephen King tem sempre o mérito de ser o criador original da ideia, e mais tarde passou a aceitar melhor o projeto de Kubrick.
Enfim, este livro tem sido objeto de muitas apreciações, naturalmente subjetivas. Há quem pura e simplesmente repudie este tipo de livros, e temos de os respeitar. Outros há, porém, que se deixam fascinar por estes ambientes fantasmagóricos, capazes de lhes causar calafrios, fazendo-os vivenciar novas experiências, como quando se entra numa montanha russa. Também estão certos. Haverá outros ainda que verão o livro sobretudo pela qualidade da escrita e construção do trama, analisam-no cientificamente, e nesse caso não acreditam muito na história, riem-se até das cenas de terror, apreciam-no sobretudo sob o ponto de vista criativo. Quanto ao filme houve quem adormecesse ao vê-lo. Este livro é para quem gosta do género, para quem se impressione com cenários estranhos e assustadores, acredite ou pelo menos aceite o fantástico, o sobrenatural, delire com cenas sinistras, medonhas, aterradoras, e, sendo assim, pode ver em The Shining um livro clássico de terror, para alguns críticos, como Peter Straub, uma obra-prima do género.
04/01/2024
Martz Inura
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