O
HOMEM
José
Maria Eça de Queiroz nasceu a 25 de Novembro de 1845, na cidade da Póvoa do
Varzim. O pai, José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, era uma pessoa
importante, formado em Direito, foi magistrado e Par do Reino, Juiz da Relação
e do Supremo Tribunal de Justiça, defendera Camilo Castelo Branco naquele
célebre processo de Ana Plácido. Com 20 anos apaixonou-se por Carolina Augusta
Pereira de Eça, dois anos mais nova. A relação não foi aceite pela família
desta, mas os dois continuaram a encontrar-se e ela teve uma gravidez
inesperada, tendo que a esconder e fugir de casa para que o filho nascesse
longe e se evitasse o escândalo social. Isto era comum nesta época. Nascido
antes do casamento, foi registado apenas com o nome do pai, portanto, filho de
mãe incógnita, e entregue à madrinha, que foi a viver com ele para Vila do
Conde. Aos quatro anos os pais casaram, mas não o foram buscar, ainda para
fugir às bocas do mundo, e o menino foi entregue aos cuidados dos avós
paternos, em Aradas, perto de Aveiro. E quando em 1895, já com dez anos,
regressou ao Porto e ao convívio dos pais e dos irmãos, teve dificuldades de se
integrar, não se sentia filho daquela família, que na prática o rejeitara, os
laços íntimos de familiaridade paternal e maternal, bem como filial, não
tiveram a devida gestação: ele sentia-se ali como um filho adotivo. Foi talvez
por isso internado no Colégio da Lapa no Porto, e aos dezasseis anos, em 1861,
segue para Coimbra para frequentar o curso de Direito, onde fez amizade com
Antero de Quental. Em 1866 conclui o curso, fez carreira de advogado e
jornalista, chegando a ser diretor do semanário O Distrito de Évora. Desde este período e até aos fins da vida foi
sempre colaborador de vários jornais e revistas. Entre 1869 e 1870 fez uma
viagem ao Oriente, assistindo à abertura do Canal do Suez. Entre 1871 e 172
esteve por Lisboa, colaborou nas Farpas
com Ramalho Ortigão, esteve na organização e participou nas Conferências do Casino. Nesse mesmo ano
entrou para a administração pública, sendo nomeado administrador do concelho de
Leiria. Concorre à carreira diplomática, ficando em primeiro ligar do concurso.
Em 1873 é cônsul de Portugal em Havana, e de 1874 a 1875 em Newcastle,
Inglaterra, onde escreve O Crime do Padre
Amaro, entre outras obras; de 1875 a 1887 em Bristol, naquele mesmo país,
onde escreve obras importantes como O
Primo Basílio, A Tragédia da Rua das
Flores, O Mandarim, A Relíquia. Mais tarde, em 1888, iria
exercer as mesmas funções em Paris, escrevendo aqui as suas últimas obras, de
que se destaca Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras, este publicado
postumamente. Foi só com 40 anos que casou com Emília de Castro, de quem teve
três filhos e uma filha. Faleceu ma sua casa, perto de Paris, em 16 de Agosto
de 1900, de grave doença, ainda hoje mal diagnosticada, tinha apenas 55
anos.
A
OBRA
Convém ver o encadeamento da publicação das suas principais obras, algumas saídas postumamente:
- O Mistério da Estrada de Sintra (1870)
- O Crime do Padre Amaro (1875)
- O Primo Basílio (1878)
- O Mandarim (1880)
- A Relíquia (1887)
- Os Maias (1888)
- Uma Companhia Alegre (1890-91)
- Correspondência de Fradique Mendes (1900)
- A Ilustre Casa de Ramires (1900)
Os Maias
1º
ADVERTÊNCIA
Esta obra está por aí muito
estudada, e exaustivamente. É ler de João Gaspar Simões, Eça de Queiroz – O Homem e o Artista, ou de Lopes de Oliveira Eça de Queiroz, a Sua Vida e a Sua Obra.
Mas muitos outros críticos e ensaístas fizeram grandes explanações sobre este
livro, e muitos jovens elaboraram trabalhos recorrendo a novas formas de
apresentação digitais. Por isso, porque sei que são amantes de literatura, e são
sobretudo alunos que consultam estas páginas, este trabalho vai ser muito
sintético para que fiquem apenas com uma ideia geral, podendo depois decorrer a
trabalhos mais elaborados. Por isso se aconselha o seguinte, para ficarem bem
preparados para desenvolver um tema:
1º Ler este resumo de corrida, e
deter-se um pouco mais nas personagens, que são muitas. Aqui se destacam as
principais, destacando-se a sua importância e aproximando-as de quem estão mais
ligadas.
2º Ir ver no Youtube o filme de Os Maias,
da RTP, com realização de 2014 de João Botelho, ou a série em 44 episódios da
TV Globo de 2001, de adaptação escrita por Maria Adelaide Amaral, ainda que aos
poucos, ou comprar um DVD do filme. Isto fará com que possam utilizar a vossa
memória visual, normalmente forte, para uma compreensão das personagens e dos
locais, dando-vos bases para escreverdes muito mais e fundamentadamente sobre
alguns assuntos.
3º A seguir ler então o livro,
podendo ainda recorrer a esta síntese para se tirarem de algumas dúvidas quanto
às personagens, locais, onde se critica o sistema social, os costumes, a
componente político-económica, a moral e a religião, e até a filosofia, por
vezes pessimista, ou mesmo niilista, no último capítulo.
2º
TEMPO E LOCAIS CONDE SE PASSA A AÇÃO, TRANSPORTES
O romance inicia a sua ação no
outono de 1875 (p. 7), quando os Mais resolvem vir viver para o Palácio do
Ramalhete, recentemente restaurado, e acaba numa manhã de janeiro de 1987,
quando Carlos da Maia vai almoçar com João da Ega ao Hotel Bragança para,
depois da longa e demorada viagem que fizera ao estrangeiro, saber o que tinha
acontecido aos seus amigos de Lisboa, (p. 699), contudo, ele tem
antecedentes que remontam a 1820, quando da Revolução Liberal.
Há locais que se vão aqui destacar,
pois, quem não tiver uma memória fotográfica facilmente se esquece deles e fica
desorientado ao ler o romance. Referem-se os seguintes:
Nos transportes predominavam os carros puxados por cavalos: o coupé,
mais ligeiro, o break, aberto atrás, a tipoia de praça, a caleche e o fiacre, o
“Americano”, carruagem puxada por cavalos em rails, o trem, que era o comboio.
3º
PRINCIPAIS PERSONAGENS
– Caetano da Maia: pai de Afonso da Maia, chegou a ser miguelista
– Afonso da Maia: o patriarca da família Maia, o avô de Carlos. Foi jacobino, mas o tempo tornou-o mais moderado e sensato, liberal, o esteio moral da família.
– Maria Eduarda Runa: esposa de Afonso, mãe de Pedro da Mais, senhora conservadora e beata.
– Vilaça Pai: procurador dos Maias: bastante fiel ao patrão, acredita no progresso.
– Gertrudes: governanta dos Maias.
– Monsieur Théodore: cozinheiro de Afonso.
– Teles da Gama: amigo de Afonso, padrinho de Pedro.
– Brown: perceptor inglês de Carlos em Santa Olália, ligado às ciências.
– Abade Custódio: educador de Carlos em Santa Olália, com convicções mas sem força para as impor.
– D. Diogo Coutinho: amigo de Afonso da Maia com quem jogava ao Whist.
– Marquês de Souselas: amigo de Afonso da Maia, pessoa informada e assertiva.
– General Sequeira: amigo de Afonso e depois do neto, pessoa íntegra, liberal e cativante
– Steinbroken: ministro da Finlândia. Amigo de Afonso da Maia, fino toca piano, joga Whist.
– Pedro da Maia: filho de Afonso de Maia, estudou em Richmond num colégio católico. Suicida-se depois de Maria Monforte fugir com a filha. É fraco, romântico.
– Maria Monforte: filha dos Monforte, de Sintra, romântica, volúvel, fraca.
– Manuel Monforte: pai de Maria Monforte. Vive em Sintra.
– Padre Vasques: Educador de Pedro em Richmond, muito voltado para a religião, para o romantismo.
– Tancredo: homem com quem Maria Monforte vai fugir com a filha Maria. É belo como Apolo.
– Carlos da Maia: personagem principal. É
revolucionário e o avô manda-o para Santa Olália. Tira medicina em Coimbra, mas
só a exerce por prazer. Torna-se boémio, mulherengo. Já em jovem tinha
Teresinha como namorada, em Coimbra tinha uma amante, Ana. Em Lisboa, depois de
ser amante da condessa de Gouvarinho, passou a ser amante de Maria Eduarda. É um dos vencidos da vida.
– Vilaça Filho: procurador de Carlos, dá muito valor ao dinheiro.
– Teixeira: mordomo de Afonso da Maia em Santa Olália.
– Baptista: criado de quarto de Carlos.
– Domingos: criado de Carlos.
– Ana: amante de Carlos em Coimbra.
– Maria Eduarda: filha de Pedro da Maia e
Maria Monforte, que fugiu com ela para Paris. Acaba por se juntar a tal Mac Green
e a seguir de Castro Gomes. Torna-se amante de Carlos. Depois se se saber irmã
de Carlos vai para Paris com uma pensão deste, e acaba por se casar mais tarde
com Trelain.
– Miss Sara: governanta de Maria Eduarda.
– Melanie: criada de Maria Eduarda.
– Rosa: a filha de Maria Eduarda, de cinco anos.
– João da Ega: amigo de Carlos com quem tirou Direito em Coimbra. Vive de uma mesada da tia de Celorico de Basto, é boémio, ateu, demagogo.
– Dâmaso Saucede: Primo de Raquel Cohen. Falso amigo de Carlos, caráter fraco, que o vai trair de princípio ao fim. Chegou a ser desafiado para um duelo depois de intriga para a Corneta do Diabo
– Guilherme Craft: amigo de Carlos, vive de uma pensão do tio do Porto. Negoceia em arte.
– Tomás Alencar: amigo dos Maias, em especial de Pedro. Poeta ultrarromântico falhado
– Vitorino Crugues: amigo de Carlos, maestro e pianista, frágil, gasto e cómico.
– Taveira: amigo de Carlos. Funcionário do tribunal de contas, mulherengo, superficial.
– Condessa de Gouvarinho: esposa do conde, mulher de 33 anos, amante de Carlos, provocante, adúltera e fútil.
– Jacob Cohen: banqueiro, oportunista, materialista e egoísta.
– Raquel Cohen: esposa de Jacob Cohen, muito bela, amante de Ega.
– Palma Cavalão: diretor da Corneta do Diabo, jornal sensacionalista. É um jornalista corrupto.
– Sousa Neto: funcionário superior, amigo de Gouvarinho, que representa a ignorância das nossas elites.
– Eugénia Silveira: mãe de Terezinha Silveira e Eusébio Silveira, em que depositava muitas esperanças.
– Teresinha Silveira: filha de Eugénia, primeira namorada de Carlos, conservadora, beata.
– Eusébio Silveira: filho de Eugénia. Pessoa mesquinha e tristonha, viúvo.
– Sr. Guimarães: tio de Eusébio, do Porto, vive em Paris, carbonário, republicano, revela o segredo de Carlos ser irmão de Maria Eduarda.
– D. Joana Coutinho: mulher da alta sociedade lisboeta.
– Amélia, Lola, Concha, Cármen: mulheres livres.
4º
EPISÓDIOS DE CRÍTICA SOCIAL
Trata-se de uma crónica de costumes, em que Eça de Queiroz vai retratar a sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX, tirados dos Episódios da Vida Romântica, que ele tinha escrito, e que vai inserir nesta obra:
1
– Jantar na Casa de Santa Olália: (Cap. III)
No
solar de Santa Olália discute-se o problema da educação. Afonso da Maia, o abade
Custódio e o inglês Brown falam da educação a dar a Carlos, o abade é propenso
à cartilha religiosa e o inglês a uma educação mais musculada, voltada para a
ciência. Repare-se que aquele mandou o neto para um colégio católico em
Richmond, Inglaterra.
O antigo Hotel Central, vendo-se um coupé e uma caleche
Os
temas aqui tratados são do foro literário e político. Pretende-se homenagear o
banqueiro Cohen. Ega critica a decadência do país. Cohen diz que a função dos
ministros é cobrar impostos e fazer empréstimos, a bancarrota era inevitável. Alencar
defende o Ultrarromantismo, a que Ega contrapõe o Realismo/Naturalismo,
representando a geração de 70. Aborda-se o socialismo.
3 – A corrida de cavalos no Hipódromo (Capítulo X)
No hipódromo, a imitar o estrangeiro:
os homens a mostrarem os seus cavalos, as mulheres a exibirem os seus vestidos,
uma caricatura do seu provincianismo e cosmopolitismo. A alta burguesia focada
nas aparências, ridicularizada. Há uma discussão ligada ao cavalo vencedor, o
habitual.
4 – O jantar na casa do conde Gouvarinho (Capítulo XII)
Exibe-se ali uma falsa abastança. Discute-se
política, mal-amada; insistindo-se nas débeis finanças do país. Faz-se uma
referência à cultura, com intrusões na literatura e na crítica literária. A
condição da mulher também é tratada, na versão provocatória de Ega, deve cozinhar e amar bem. Hoje dir-se-ia
machista. Pessoas importantes não sabem quem é o filósofo Proudhon, na altura
muito vulgarizado. Carateriza-se aqui a ignorância da aristocracia lisboeta.
5 – O episódio dos jornais, “A Corneta do Diabo” e “A Tarde” (Capítulo XV)
6 – O sarau do Teatro da Trindade (Capítulo XVI)
7 – Jantar em Lisboa no Hotel Bragança (Capítulo XVIII)
Carlos
depois de vir de Santa Olália, no salão nobre do Hotel Bragança fala da
política portuguesa como coisa moral e fisicamente nojenta, referindo-se ao conde
de Gouvarinho, coberto de grã-cruzes, como político medíocre, palrador,
escrevinhador, mas sem rasgo. A diplomacia consistia numa forma de ociosidade. Tem
de um modo geral uma opinião negativista sobre as pessoas que cá deixara, dando
uma imagem negativa do país, que continuava em decadência.
4º
BREVE RESUMO DO LIVRO
Capítulo I
A
ação de “Os Maias” começa no outono de 1875, quando Afonso da Maia, nobre e
grande proprietário, a viver em Santa Olália, se instala no Ramalhete, durante
vários anos votado ao abandono, já que em Lisboa preferia o palacete de
Benfica. Carlos, o único descendente que tinha vivo, acabado de formar em Medicina
queria abrir um consultório em Lisboa e nesse ano e resolvera restaurar o velho
palácio, mandando-o decorar ao estilo inglês. O avô decide então deixar Santa Olália,
em Resende, junto do Rio Douro, e regressa a Lisboa. Quando jovem fora apoiante
da causa liberal, contrariando o seu pai, Caetano da Maia, que era miguelista.
Por esta razão foi desterrado para a Quinta de Santa Olávia. Alguns anos
depois, como resultado das Lutas Liberais,
Afonso da Maia teve de partir para Inglaterra, onde esteve algum tempo, mas de
onde teve de voltar devido à morte do pai. Foi então que conheceu a mulher com
quem viria a casar, D. Maria Eduarda Runa, de quem teve um filho, e com quem
partiria de novo para Inglaterra, então o lugar de exílio para os vencidos das Lutas Liberais. Porém, D. Maria Eduarda
Runa, uma mulher de saúde débil e católica devota, não se habituou à falta do
sol de Lisboa nem ao protestantismo, chamou mesmo o padre Vasques educar o seu
filho, Pedro, já que não tinha confiança nos ingleses. Pedro cresceu sob a
orientação de um pai austero e uma mãe protetora, ficando medroso e mimado.
Algum tempo depois, a doença de D. Maria agravou-se e a família voltou para
Lisboa, onde ela acabou por morrer. Pedro, recuperado do luto, apaixonou-se por
Maria Monforte, uma mulher muito atraente, filha de um negreiro residente em
Sintra. Afonso da Maia opôs-se por isso a esta relação, mas ele não resistiu
aos seus encantos, e, não tendo coragem de enfrentar o pai, casou-se com ela à
sua revelia e partiu para Itália. Para o pai aquele casamento foi um enorme
desgosto, mandou o criado retirar da mesa o talher do filho, Pedro, e durante muitos
anos o seu não se ouviu pronunciar naquela casa. Foi num período em que o
Saldanha foi demitido no paço.
Capítulo
II
Pedro
e Maria casam-se contra a vontade do pai e partem para Itália. Mas não estão
ali muito tempo, pouco depois vão viver para Paris, onde Maria aparece grávida.
Já com saudades de Portugal, Pedro acha que com o nascimento do primeiro neto
talvez o pai lhe tivesse perdoado e regressa a Lisboa, não sem antes lhe
escrever uma carta. Mas ele ainda não lhe tinha perdoado e volta para o Norte,
para Santa Olália. Quando Pedro chegara a Lisboa, fica a saber que o pai tinha partido
dali no dia anterior. Não conseguiu reconciliar-se com o pai, mas permaneceu em
Lisboa, ficando a viver em Arroios. Por fim nasceu Maria Eduarda, mas não
informou o pai do seu nascimento. Também ele estava magoado com a sua rejeição.
A menina era a cara do avô, até Vilaça a fora ver. O tempo foi passando, e Pedro,
quando lhe nasce o segundo filho põe de novo a hipótese de se conciliar com o
pai e resolve ir a Santa Olávia apresentar-lhe os netos. Mas infelizmente esta
visita teve de ser adiada porque ele numa caçada feriu acidentalmente um
italiano, chamado Tancredo, que tinha sido condenado à morte e andava fugido. Face
ao seu desacerto viu-se obrigado a dar-lhe guarida em sua casa durante algum
tempo até ele se restabelecer. Tancredo era um homem formoso, parecia um Apolo,
e Maria Eduarda Runa, que era uma romântica, com o tempo apaixonou-se por ele,
e um dia Pedro descobre que os dois tinham fugido, levando a mulher a sua
filha, Maria Eduarda, ainda menina. Pedro decide então procurar o pai, a viver
na casa de Benfica, que o recebeu bem, vendo o seu aspeto deplorável. Ele
deu-lhe razão quanto à mulher com quem casara, que era uma infiel, levando-lhe
o filho, Carlos. Afonso da Maia deu-lhes acolhimento, porém, nesse mesmo dia,
Pedro suicida-se, por não ter suportado a traição da mulher. Vilaça trata do
funeral e da trasladação do corpo para o jazigo da família. Afonso da Maia decide
então fechar a casa de Benfica e vendê-la, mudando-se com o neto, Carlos, para
a quinta de Santa Olávia.
Capítulo
III
Neste
capítulo é narrada a infância de Carlos, passada em Santa Olávia, junto do Rio
Douro, e é descrito um episódio em que Vilaça, o procurador dos Maias, faz uma
visita à quinta. Aqui de descreve a educação austera de Carlos, com um
professor inglês, Brown, que dava primazia ao exercício físico e as regras
duras que Afonso impunha ao neto. Aos cinco anos já dormia num quarto sozinho
sem lamparina, e de manhã ia para dentro de uma tina de água fria. Também
ficamos a conhecer os Silveiras: Teresinha, a primeira namorada de Carlos e o
seu irmão Eusebiozinho, o oposto de Carlos, muito frágil, tímido, medroso e
estudioso, bem como a sua mãe e a sua tia. Aqui de pode verificar o contaste
entre a educação tradicional de Eusebiozinho, a quem ainda vestem de anjo nas
processões, e a inglesa, liberal, de Carlos, voltada para a dureza da vida. É
por esta altura que Vilaça dá notícias de Maria Monforte e da filha, lendo uma
carta de Alencar, que a vira em Paris. Segundo o procurador a sua neta devia
ter morrido em Londres (mais tarde veremos que não foi a sua neta, mas uma sua
meia-irmã). Para confortar Afonso da Maia, disse-lhe que ela, tendo morrido, já
não poderia reclamar a legítima da herança. O abade Custódio mantém-se por Santa
Olália, ministrando a educação religiosa a Carlos, muito voltado para a
cartilha, embora não se impondo muito ao rapaz, que era um tanto rebelde.
Entretanto, o velho Vilaça morre, sendo substituído pelo filho como procurador
da família. Alguns anos depois Carlos faz exame de acesso à Universidade de
Coimbra, onde vai cursar Medicina. Ao avô enternece-o o talento do neto,
anunciado pelo procurador, a ponto de se comover.
Capítulo
IV
Este
capítulo reporta-se à estadia de Carlos em Coimbra a cursar Medicina. O avô,
Afonso, para que ele tivesse todas as condições para tirar o curso, oferece-lhe
uma casa na cidade de Coimbra, em Paços de Celas. Mas Carlos, no meio de tantas
facilidades e pouco controlo, em vez de se dedicar com ardor aos estudos faz
uma vida quase de boémio, rodeado de amigos com ideias filosóficas e liberais. Tinha
mesmo uma tal Ana como amante. Passava as férias grandes em Lisboa, Paris ou
Londres, porém, nos Natais e nas Páscoas vinha a Santa Olália. É sobretudo
chegado a João da Ega, que estudava Direito, e era sobrinho de André da Ega,
amigo de infância do avô. Pela altura da formatura de Carlos, ele deu uma
grande festa na sua casa de Celas, depois da qual este partiu para uma viagem
de um ano pela Europa. Durante catorze meses o avô não o viu, a não ser numa
fotografia enviada de Milão, em que todos o acharam magro e triste. Por fim, juntaram-se
no Ramalhete, recentemente por si restaurado, onde se iria instalar. Carlos
tencionava montar um consultório e um laboratório em Lisboa, vontades que
depressa o avô satisfez: o laboratório foi montado num velho armazém, e o
consultório num primeiro andar em pleno Rossio. Carlos recebeu mais tarde com
alegria a visita do seu amigo Ega, com quem andara em Coimbra, que lhe anunciou
ir publicar o livro que andava a escrever havia já uns anos – Memórias de um Átomo – que todos já
tinham ouvido falar e esperavam com impaciência. Esse livro falava da história
de vida de um átomo, que viveu desde a criação do Universo até ao presente.
Devia ser uma epopeia em prosa.
Capítulo
V
Com
Carlos com consultório em Lisboa, Afonso da Maia regressa ao Ramalhete, onde se
reúne com os seus amigos. Aparece a jogar Whist
tendo como parceiro D. Diogo Coutinho, contra o general Sequeira e o procurador
Vilaça. Este jogo tinha semelhanças com o atual Bridge, que dele derivou. O reverendo
Bonifácio estava à lareira. O marquês de Souselas, o conde Steinbroken, o
Cruges e o Eusebiozinho jogavam bilhar. Neste mundo ocioso, todos sentiam a
falta de Ega, pois ninguém o via há vários dias. Pouco depois Crugues toca
Mendelsohn e Chopin ao piano. Entretanto, tendo montava um consultório e até um
laboratório em Lisboa, Carlos escrevera dois artigos na Gazeta Médica, e começara a ter alguma popularidade devido ao seu
sucesso com o caso da Marcelina, a mulher do padeiro que estivera às portas da
morte. Mas este sucesso não iria ter continuação, ele exercia Medicina por
prazer, não pelo dinheiro, de que não precisava. Mais tarde, finalmente
encontra Ega e é desvendado o mistério do seu desaparecimento, ele estava retido
algures à volta de Raquel Cohen, por quem estava apaixonado, infelizmente, uma
mulher casada. Ega, íntimo amigo de Carlos, propõe que ele conheça a bem instalada
família Gouvarinho, e este aceita o convite. Depois de ter avistado a condessa
Gouvarinho numa roda de amigos de Ega, Carlos não parava de pensar nela, aquela
mulher de trinta e três anos frescos mexera com ele. Este capítulo acaba com
uma ida de Carlos com a família Gouvarinho à ópera no S. Carlos, e é durante este
espetáculo que ele se apercebe que a condessa se mostra interessada nele. Eles
passam a frequentar a casa dos Gouvarinho, que recebiam às terças-feiras. O
conde com quem travou várias conversas de algum interesse era um político
daqueles tempos, superficial e medíocre. Carlos tratava-o por Vossa Excelência,
mas em quem estava mesmo interessado era na mulher.
Capítulo
VI
Uma
manhã Carlos tentou fazer uma visita de surpresa a Ega na Vila Balzac, nas
Penhas de França, casa que este adquiria para seu retiro espiritual, mas tem
muitas dificuldades em dar com ela, e quando finalmente a localiza, não estava lá
ninguém para o receber. Ega ao saber disto mais tarde fica chocado e combinam
uma nova visita. Nesse dia Carlos foi muito bem recebido, com um criado à porta
e tudo. Ega mostra-lhe a sua casa e celebra o momento com champanhe. A casa é
luxuriante, e decorada conforme o temperamento do proprietário. Ega faz-se
convidado para ir jantar com Carlos, e quando se prepara para sair falam sobre
a Gouvarinho e sobre o súbito interesse de Carlos pela senhora, por quem se
sente atraído. Esta atitude de Carlos para com as mulheres era recorrente, e
Ega brincou com ela. Na ida para o jantar, cruzam-se com Craft, velho amigo de
Ega, e combinam os três jantar no dia seguinte no Hotel Central. Ega faz
questão que os dois amigos se conheçam melhor. O jantar acaba por ser adiado
depois de alguns contratempos, mas Ega consegue marcá-lo para um outro dia, em
que estão presentes Carlos, Craft, Alencar, Dâmaso e Jacob Cohen, este último, banqueiro
e marido da sua amante, a quem fez questão de homenagear com um dos pratos:
“Petits pois à la Cohen”. Discutiram vários temas ao longo do jantar, em que se
incluía a literatura e as finanças do país, vítima do deficit, a caminhar rapidamente para a bancarrota. Para Ega Portugal era Lisboa… estava todo entre a
Arcada e S. Bento. O jantar acaba e Alencar acompanha Carlos a casa,
lamentando-se da vida, do abandono por parte dos amigos e falando-lhe de seu
pai, de sua mãe e do seu passado. Carlos por sua vez também lhe fala da família:
a mãe fugira com um estrangeiro levando a irmã, que morrera pouco depois, e o
pai suicidara-se. E já em casa, antes de adormecer e enquanto aguarda um chá,
sonha com a mulher deslumbrante com quem se cruzara à porta do Hotel Central,
enquanto aguardava com Craft os restantes amigos para o jantar, alçando os
braços proclamou: Abril chegou, sê minha!
Capítulo
VII
No
Ramalhete mantinha-se a mesma rotina, o velho Afonso da Maia jogava uma partida
de xadrez com Craft, enquanto o reverendo Bonifácio dormia uma sesta ao pé da
lareira sem lume. Carlos, ainda com poucos doentes, trabalha num livro de Medicina.
No dia seguinte quis falar com Cruges, mas ele tinha mudado de casa, ficou tão desiludido
que esteve para ir até Sintra. Craft em pouco tempo tornara-se íntimo dos
Maias, e o mesmo consegue Dâmaso Saucede, com a mania de ser comendador. Tem de
vez em quando algumas saídas pouco felizes na presença de Carlos, como quando
abandona uma mesa de jogo, ou se riu despropositadamente de um seu pequeno
incidente. Considerava Lisboa um chinfrim e só se sentia bem em Paris. Seguia
Carlos por todo o lado, conversara com ele sobre as suas aventuras, procurando
imitá-lo, mas notava-se que lhe tinha inveja. Por aquela altura Ega estava
afastado, tentando organizar um baile de máscaras em casa de Jacob Cohen,
apaixonado que estava pela mulher. Carlos tinha dificuldade em encontrá-lo. Dirigiu-se
ao Hotel Central, e já no Aterro (hoje avenida 24 de Julho), encontra-se com o
ministro finlandês Steinbroken, com quem tem uma longa conversa sobre política
internacional, os costumes dos povos, a economia do país, e até sobre Psicologia
Social, mas viu uma mulher, que lhe parecia uma deusa pisando a terra e toda
esta erudição se eclipsou. Foi para casa. Durante vários dias passou pelo
Aterro na ânsia de a voltar a encontrar, e uma vez viu-a, mas acompanhada do
marido, era Maria Eduarda. A condessa de Gouvarinho, sentindo-se rejeitada, com
o pretexto de se encontrar com Carlos leva-lhe a filha ao consultório,
fazendo-a doente. O Ramalhete continua a ser muito frequentado, à noite ouve-se
música, joga-se ao dominó. Carlos através de Taveira soube que Maria Eduarda se
encontra em Sintra com o marido e Dâmaso, e convida o maestro Crugues a ir lá
com ele no dia seguinte no seu break.
Capítulo
VIII
Carlos
da Maia no dia seguinte vai buscar o maestro Crugues no seu break, mas há um contratempo, ele já não
morava na Rua das Flores e ainda demora a encontrá-lo. O seu motivo aparente é
visitar a verdejante vila de Sintra, aonde já não ia desde os nove anos, mas o
motivo real era ter um encontro fortuito com a mulher de Castro Gomes, Maria
Eduarda, que julgava ali estar. Após algumas horas de viagem de break, chegam finalmente a Sintra e vão
hospedar-se no Hotel Nunes, por sugestão de Carlos, receando que ao
instalarem-se no Lawrence’s Hotel se
cruzassem de imediato com os Castro Gomes, perdendo o seu encontro aquele
efeito de casualidade que ele lhe procurava dar. No hotel dá com o seu amigo de
infância, Eusebiozinho, acompanhado por um tal Palma Cavalão, e duas senhoras
espanholas, Concha e Lolita, suas acompanhantes. Após um pequeno episódio
cómico, em que uma das espanholas se exalta, Carlos e Cruges partem num pequeno
passeio pedestre para visitar Seteais. Pelo caminho encontram Alencar, o poeta,
vindo justamente daquele local, mas que fez questão de os acompanhar até lá,
fazendo aquele caminho pela segunda vez nesse dia. Chegados a Seteais, Cruges,
que não conhecia o local, ficou desapontado quando verificou o estado de
abandono em que se encontrava a construção, porém, depressa Alencar o reanimou,
ao apontar-lhe a beleza da paisagem em redor. Carlos tenta localizar Dâmaso e
os Castro Gomes, mas é informado que eles haviam deixado Sintra na véspera. Decide
então voltar para Lisboa. A visita ao paço e ao palácio perderam o interesse. Resolveram
jantar no Lawrence, para evitarem o
amigo Eusebiozinho e seu grupo. Todavia, como tiveram de ir ao Nunes pagar a conta, lá acabaram arreliadoramente
por os encontrar. De volta ao Lawrence,
onde Alencar os esperava para um jantar especial de bacalhau, preparado pelo
próprio, só saíram dali às oito da noite. Depois do jantar sentaram-se no break de regresso a Lisboa, dando boleia
ao poeta Alencar, e com isto esqueceram-se das célebres queijadas de Sintra.
Capítulo
IX
Carlos
passou uns dias enfadonhos no Ramalhete, mas veio o Vilaça falar-lhe da venda
de uns montados no Alentejo e isto animou-o, pois precisava de dois contos de
reis. Entretanto, recebe uma carta a convidá-lo para ir a um jantar no sábado
seguinte nos Gouvarinho, e Ega aparece lá por casa a pedir-lhe emprestada uma
espada condizente com a roupa que ia levar nessa noite ao baile dos Cohen, que ele
ficou de lhe arranjar. Porém, algo mais urgente ocorre, Dâmaso vem ali solicitar
a sua presença na casa dos Castros Gomes para observar a menina Rosa, de cinco
anos. Os pais tinham saído essa essa manhã para Queluz. Ao chegar lá, Carlos verifica
que a pequena já está recuperada e passa-lhe uma receita que entrega a Miss
Sara, a governanta. Quando regressa ao Ramalhete empresta a espada ao seu amigo
Ega, que faz questão de participar nos anos de Raquel. Sai dali à pressa, e pouco
depois, são dez horas da noite, Carlos está a preparar-se para ir também à
festa quando lhe aparece Ega mascarrado de Mefistófeles, a dizer-lhe que Cohen
o expulsara de casa. Sentia-se ofendido, queria-o desafiar para um duelo. Porém,
Carlos e Craft desmotivaram-no, pois razão tinha-a ele, que descobrira o seu
caso com Raquel. No dia seguinte, Ega já tinha desistido do duelo e a criada de
Raquel Cohen fez-lhe saber que ela tinha sido espancada pelo marido e iam partir
para Inglaterra, deixando Portugal. Ega dorme nessa noite no Ramalhete, e,
descorçoado, decide deixar Lisboa. Porém, o casal fez as pazes. Na semana
seguinte só se ouvia falar mal do Ega, "todos lhe caíam em cima".
Carlos vai progressivamente ficando íntimo dos condes de Gouvarinho. Visita a mulher
e numa das vezes dá-lhe um beijo apaixonado, mesmo antes da chegada do conde.
Depois de ele chegar começam a falar de alta política, da economia e do país.
Na despedida o conde trata-o por querido Maia e põe-lhe uma mão à cintura, ele
prezaria a admiração que Carlos prestava à mulher.
Capítulo
X
Carlos visitava agora regularmente a
condessa de Gouvarinho na casa de uma sua tia, ausente no Porto, embora
começasse a ficar farto dela. Três semanas depois está a apear-se de um coupé, vindo de casa dela, quando vê
Rosa a acenar-lhe do seu coupé com a mãe, que se riu para ele. Ele quer
arranjar um motivo para a encontrar e combina com Dâmaso levar os Castro Gomes
a ver o bricabraque de Craft. Entretanto, aparece o marquês de Souselas a
falar-lhe das corridas de cavalos no hipódromo, a que não podia faltar. Ali o
autor descreve bem a alta sociedade lisboeta, apostada em imitar o que se fazia
no estrangeiro. Estão presentes nas corridas grande parte das personagens do
romance. Ao fim gera-se uma grande confusão. Carlos aposta num cavalo em que
pouco apostaram e ainda ganhara doze libras. Durante as corridas Carlos
encontra-se com a Gouvarinho, de partida para o Porto ver o pai, que estava
mal, propondo-lhe que fosse com ela até Santarém, onde teriam um encontro
casual, indo a seguir cada um para seu lado. Dâmaso encontra a seguir Carlos e
diz-lhe que aquele encontro que ele lhe propusera com os Castro Gomes não se
podia realizar porque o conde partira para o Brasil, onde devia ficar três
meses. Esta notícia agradou a Carlos, que mesmo assim acedeu em acompanhar a
condessa de Gouvarinho. Contudo, agora só pensava na mulher de Castro Gomes.
Sabia que ela alugara uma casa à mãe do Crugues e vai à Rua de S. Francisco
para este lhe dizer onde ela morava, mas ele já não vivia lá. Fica fortemente desapontado,
mas chega ao Ramalhete e tem lá uma carta da senhora Castro Gomes a pedir-lhe
que a visite no dia seguinte por ter em casa uma pessoa doente, melhor notícia
ele não podia ter recebido.
Capítulo
XI
Na
manhã seguinte Carlos levanta-se cedo para ir a casa da senhora Castro Gomes. O
criado Domingos é que lhe vem abrir a porta e se prontificou a ir chamar a Sr.ª
D. Maria Eduarda. Era a primeira vez que ouvia o nome dela. Ele imaginou que
fosse a filha, Rosa, que estivesse doente, mas era Miss Sara que estava com uma
bronquite. Foi a criada Melanie que o levou ao quarto da governanta para o
deixar mais à vontade. Ela examinou-a e passou-lhe uma receita, dizendo que
viria ali observá-la diariamente. Tem uma conversa amena com Maria Eduarda, uma
mulher muito atraente e culta, que até tocava piano, sentindo-se os dois muito
próximos. Nessa noite Carlos teria de ir até Santarém com a condessa
Gouvarinho, ela estava a cansá-lo, começava a odiá-la. Por sorte o conde de
Gouvarinho resolvera acompanhar a mulher, e salvou-o desta situação. E por
acaso, Dâmaso também estava ali para seguir para o Norte, pois morrera-lhe um
tio em Penafiel, de modo que teve todos os pretextos para não os acompanhar até
Santarém. Na estação ela apanhando-o sozinho e manifestou-lhe o seu desagrado
por o marido à última hora a querer acompanhar. Carlos quando os viu partir
respirou de alívio, e antes de ir para casa com o seu coupé ainda passou pela Rua de S. Francisco. Durantes umas semanas
frequentou a casa de Maria Eduarda, familiarizando-se com ela. Mas foi
perturbado a seguir com uma carta de Gouvarinho a falar-lhe do pai, quando
estava farto dela. Mais tarde, num dia em que estava em casa de Maria Eduarda
apareceu por lá Dâmaso, regressado de Penafiel, e ele sentiu que a sua
privacidade fora violada, ficou mesmo enciumado. Voltaram os dois ao Ramalhete,
Carlos fez insinuações sobre a herança que ele ia receber do tio (titi), e
Dâmaso insinuou que ele se estava a aproveitar de Maria Eduarda. Perguntaram
por Ega, que estava a chegar de Celorico, por saber que os Cohen estavam a
regressar de Inglaterra.
Capítulo
XII
No sábado, vindo de S. Francisco, da
casa de Maria Eduarda, Carlos recolhe-se ao Ramalhete, onde vem encontrar Ega,
incógnito na cidade, obcecado por Raquel Cohen. Confessa-lhe que viera com a
Gouvarinho, que veio durante tida a viagem a falar dele, e que o conde os
convidara para o jantar da próxima segunda-feira. Foram falar com o velho
Afonso da Maia, satisfeito por saber que Ega vinha animar aquela casa, que em conversa
se queixou da indiferença do país perante a arte. Na segunda-feira Carlos foi
ao jantar da Gouvarinho, que parecia bastante enciumada face à aproximação de
Carlos de Maria Eduarda. Estava sempre a azucriná-lo com palavras de duplo sentido.
O conde, que o cumprimentou pouco depois, mostrou-se satisfeito com a sua
presença. Ega com um discurso irreverente e irónico, em que interveio também a
baronesa D. Maria da Cunha, conseguiu animar o jantar e dali a pouco, com o
pretexto de levar Carlos a ver o seu filho, Charlie, que estaria doente, num
sítio mais recôndito Gouvarinho beija-o, mostrando-se reconciliada. Na
terça-feira, depois de ter um novo encontro com a Gouvarinho na casa da tia
dela, chega atrasado a casa de Maria Eduarda. Aparece por lá Dâmaso, que era um
coscuvilheiro, e Maria Eduarda, percebendo que está a ser vigiada recusa-se a
recebê-lo. Ele fica furioso, aquilo era uma desfeita. Maria Eduarda confessa
então a Carlos que se sente muito observada ali, que gostaria de mudar para num
sítio mais isolado. Ela não se sente feliz e despede-se dele com um beijo,
ainda que triste. Carlos no dia seguinte foi à procura de Craft, que sabia ter
uma casa pouco ocupada nos Olivais, e decide comprá-la. Maria Eduarda hesita,
está a romper com tudo, mas acabou por concordar. Viu a casa e gostou, embora
com alguns reparos. Carlos consegue convencer o avô a fazer o negócio. Ega
soube disso e alertou-o que dali a três meses vinha Castro Gomes, mas Carlos
confessou-lhe que estava apaixonado por ela, que o marido a desprezava, e ele
lá acabou por aceitar a ideia.
Capítulo
XIII
Carlos estava para sair de casa no coupé, quando aparece o correio com a Revista Dois Mundos e uma carta da
Gouvarinho a comunicar que ele já lhe falhara a dois rendez-vous, fazendo-lhe outras recriminações que o deixaram
aborrecido. Queixou-se a Ega disso, e perguntou por Dâmaso, que ele já não via
há muito, dando-lhe notícia que ele andava por aí a murmurar da sua relação com
Maria Eduarda. Carlos ficou-lhe com um asco de morte, com vontade de o matar se
ele lhe aparecesse pela frente. Ele não ia esperar pela demora, mas antes era
preciso preparar a casa dos Olivais para a mudança de Maria Eduarda, mandando arejar
os compartimentos, espanejar os móveis e encher tudo de flores. Foi
encontrar-se com Maria Eduarda, mas ela tinha ido passear com Rosa para Belém,
deixando-lhe um bilhete. Ao sair dali encontra-se com o poeta Alencar, em que
falam da política do país, de Dâmaso e de Ega. No dia seguinte, uma radiante
manhã de agosto, Carlos apeou-se do seu coupé
para mostrar a casa a Maria Eduarda, que chegaria pouco depois numa carruagem
da companhia do marido. Já dentro da casa Carlos vai mostrar-lhe a casa com
belos quadros, decorada ao estilo japonês. Ela gostou do que viu. Os anos do
velho Afonso da Maia iam ser festejados justamente no dia seguinte, D. Diogo,
Craft, Sequeira, Taveira e Steinbrocken não podiam faltar, e ele anunciou-lhes
que ia passar uns dias a Santa Olália. Tudo corria bem a Carlos, quando um criado
anunciou que estava ali um coupé com
uma senhora a perguntar por si. Ele vai lá ter e é a Gouvarinho, entra na
carruagem e dão por ali umas voltas, com ela a reclamar por ele não lhe
responder às suas cartas. Ela ainda o beijocou, mas aquilo era já um rompimento
da relação.
Capítulo
XIV
Um sábado, Afonso da Maia parte para
Santa Olália, e Ega para Sintra, atrás dos Cohen. Carlos fica um pouco sozinho.
Aborrecido saiu até ao Grémio, onde se encontra com o poeta Alencar e o
Taveira, e pode conversar acerca do maléfico Dâmaso e do seu tio Guimarães,
republicano, que costumavam acusar de comunista. Contudo, aquilo que o traz mais
empolgado é os encontros secretos que tem com Maria Eduarda, está mesmo a
pensar em fugir com ela para Itália, embora isso represente para si um problema
moral difícil de ultrapassar. Uma noite é surpreendido ao entrar na casa dos
Olivais por Miss Sara e fica apreensivo, esteve quase para contar o caso a
Maria Eduarda. Lá entrou e esteve com ela na cama. Passaram a encontrar-se
todos os dias às nove e meia da noite. Em setembro, Craft, vindo de Santa Olália,
encontra Carlos no Hotel Central e fala-lhe do Alencar, do Guimarães do Porto, e
do desgosto do avô de não o ver por lá. Carlos decide-se por ir visitar o avô
dois ou três dias ao Norte, mas antes ainda quer mostrar o Ramalhete a Maria
Eduarda. Ela desvenda um pouco da sua vida, dizendo que a mãe era da Ilha da
Madeira e casara com um austríaco, tivera uma irmãzita que morrera, e confessa-lhe
que ele era algo parecido com a mãe. Apareceu entretanto Ega, mas ele era como um
irmão para si e foi levar Maria aos Olivais. Ega não aprovara a sua ideia de
fugir com Maria Eduarda, e estavam ali os dois quando recebe um bilhete de
Castro Gomes pedindo-lhe para lhe falar com urgência. Vai ter com ele ao Hotel
Bragança, bastante receoso. Depois de uma conversa amena e ele mostra-lhe uma
carta anónima que recebera no Brasil, que Carlos percebe ser de Dâmaso, a acusá-lo
de ele ser amante da mulher. Ora ele tranquilizou-o logo, dizendo que ela não
era sua mulher, mas a viúva de um tal Mac Gren, que trouxera consigo para
Lisboa. Carlos ficou furioso ao saber que ela era apenas sua amante, e tentou
logo confrontar Maria Eduarda, abandoná-la por aquela espécie de traição, mas
quando chegou aos Olivais ela já estava avisada. Ele questionou-a, vituperou-a,
mas ela pediu-lhe perdão e justificou-se. Ele estava apaixonado e acabou por
aceitar a situação, pedindo-a em casamento.
Capítulo XV
Nessa noite Carlos ficara na Toca, nos
Olivais. Logo de manhã perguntara se Maria Eduarda estava disposta a partir, o
plano de irem até à Itália mantinha-se e pé. Ela estava recetiva e perguntou à filha,
Rosa, se ela gostava de Carlos. A menina respondeu-lhe que não podia gostar
mais dele. Maria Eduarda ficou feliz por ela o aceitar como pai e revela-lhe a
seguir mais em pormenor toda a sua vida. Carlos está apaixonado e fala ao seu
amigo Ega do que tenciona fazer, indo viver por uns tempos para Itália. Porém, este
põe algumas reservas ao seu plano, seria melhor adiar o casamento para mais
tarde, pois o avô estava velho e fraco, e o desgosto daquele casamento podia
apressar a sua morte. Entretanto, foram ali vivendo na Toca uma vida de
casados, recebendo até visitas de amigos íntimos, já o não o escondia de
ninguém. Recomeça a escrever os seus artigos Medicina literária. Tudo ia bem
até que é publicado uma nota no jornal A
Corneta do Diabo, denegrindo o passado de Maria Eduarda e a sua vergonhosa
relação com Carlos. O artigo era escabroso. Este, com a ajuda de Ega vai junto
do Palma Cavalão, editor do jornal, que perante um suborno de cem mil reis lhe entrega
a carta que recebera de Eusebiozinho, e Ega logo confirmou que a letra era de
Dâmaso. Carlos fica furioso e desafia-o então para um duelo, quer matá-lo. Mas
ele era um cobarde e aceitou assinar uma carta redigida por Ega e Crugues a retratar-se,
dizendo que estava bêbado quando escreveu aquilo. Carlos deu-se por satisfeito,
mas posto perante tal ultraje resolve mais tarde publicar a carta no jornal
para ser maior a sua humilhação, e Dâmaso parte para a Itália enxovalhado. O
velho Afonso da Maia regressa de Santa Olália. Carlos tem de voltar ao
Ramalhete e manda Maria Eduarda regressar a S. Francisco à cada da tia de
Crugues, para a ter mais por perto. Ali em casa voltam a reunir-se os
frequentadores do Ramalhete, discute-se política e comenta-se a vida social.
Capítulo
XVI
Em S. Francisco Carlos ouve Maria
Eduarda ao piano, que definitivamente não o quer acompanhar ao Sarau do
Trindade, que ele próprio confessa ser uma seca. Vai com Ega ao sarau onde,
entre outros vai ouvir o músico Cruges e o poeta Alencar. Mas nessa noite é
Rufino, discursando sobre a família real que se destaca. Houve quem dissesse
que ele tinha o génio sublime de Demóstenes. Discute-se bastante, Steinbrocken
mostra-se admirado por não estar ali a família real. A famosa D. Maria da Cunha
também veio animar o evento. Está ali quando se depara com o Guimarães, que lhe
vem tirar satisfações sobre a carta que seu sobrinho, Dâmaso, lhe escrevera. A
situação é esclarecida, e depois de ele concordar que Dâmaso é um grande
mentiroso, acabam por ficar amigos. Crugues toca ao piano mas é um desastre,
ninguém o ouve, talvez ninguém o compreenda. Está ali Eusebiozinho, e Carlos
ainda lhe vai dar dois abanões por o andar a difamar. Momentos depois intervém
Alencar, que declama o poema Democracia
e conquista a sala, sobretudo o que se refere à política portuguesa, escrito ao
estilo realista, que tanto empolga Ega, e que é agora predominante. Estão para
vir embora quando o Sr. Guimarães aparece a Ega a dizer-lhe que tem ali uma
caixa que Maria Monforte lhe pedira para entregar à família, e ele já vira
Maria Eduarda, que ao contrário do que lhe contara a mãe, era filha dela e de
Pedro da Maia. Ele próprio chegara a ser amigo da família, e conta-lhe o
episódio da fuga de Maria Monforte com Tancredo, levando consigo Maria Eduarda,
ainda pequena, e da filha que os dois tiveram depois em Londres e falecera. Ela
chegara a viver num convento. Ega fica chocado com o que ouve, vai para o
Ramalhete, Carlos naquele momento estaria em S. Francisco a dormir com a irmã,
aquele é um assunto delicado, não se sente com coragem para contar a verdade a
Carlos e decide pedir ajuda ao Vilaça, que é procurador dos Maias.
Capítulo
XVII
Às sete da manhã Ega foi acordado
por um criado com a ideia de ir falar com o Vilaça, mas seria lá ele o homem
indicado para revelar aquele horrível segredo a Carlos? Ele sabia era tratar de
dinheiros e negócios. Contudo, sem coragem para ser ele a revelar aquele
segredo vai ter com o procurador. Ainda teve dificuldade em o encontrar em
casa, e quando o encontra ele mostra-se preocupado com a legítima, que cabia
por herança a Maria Eduarda. Tem as suas dúvidas, abrem a caixa do Guimarães e
lá esta o testemunho de Maria Monforte, é a letra dela. Vai falar a Carlos, que
ao ouvir semelhante revelação não acredita e vai ter com o avô para que os
desminta, mas ele antes confirma que Maria Eduarda é sua irmã. Em conversa com
Ega, Afonso da Maia diz já saber que ele se tem encontrado com ela, e isto
deixa-o desolado. Carlos, apesar de saber que Maria Eduarda é sua irmã ainda
essa noite vai estar com ela. Era para lhe ir revelar a verdade e ir para Santa
Olália, mas não resiste a passar ali a noite, ainda a ama. Afonso da Maia toma
conhecimento que o neto continua a encontrar-se e fica desgostoso. Até Ega se
sente desiludido com o comportamento de Carlos. No dia seguinte, já o sol ia
alto quando é abordado pelo criado Baptista a dizer-lhe que o avô está caído no
jardim da casa. Carlos vai lá e verifica que ele está morto, um fio de sangue
sai-lhe pela boca. Fica transtornado com aquela morte e dela se culpa. Ega
escreve um bilhete a Maria Eduarda a comunicar o facto. Ela mal conhece Afonso
da Maia mas envia-lhe uma coroa de flores. O procurador Vilaça trata do funeral,
e os velhos amigos de Afonso da Maia vêm ali prestar-lhe uma última homenagem. Carlos
está desolado, e depois do enterro decide partir para Santa Olália, o velho
refúgio da família, e pede ao seu amigo Ega para revelar toda a verdade a Maria
Eduarda, ela tinha direito à legítima, e manda entregar-lhe quinhentas libras.
Ega vai falar com Maria Eduarda, que esmagada por aquela revelação parte no dia
seguinte para Paris de comboio (trem).
Capítulo
XVIII
Nos
primeiros dias do ano novo, semanas depois, a Gazeta Ilustrada noticia a partida de Carlos e Ega para Londres com
destino à América do Norte. Vieram os amigos despedirem-se ao Tamar. Ega mais tarde envia uma carta ao
Vilaça de Nova Iorque. Eles planeavam dar uma volta ao mundo. Passado um ano e
meio chega Ega num dia de março, reaparecendo no Chiado todo bronzeado, com
ideias de publicar o seu livro Jornadas
da Ásia. Perguntou ao Vilaça como estava Carlos e ele disse que ele vivia
agora em Paris, nos Campos Elísios, fazendo a vida de um príncipe da Renascença.
Nos fins de 1886 Carlos passa o Natal em Sevilha em casa de um amigo, e volta a
Santa Olália. Ega com uma angina não o pôde visitar, pedindo-lhe por carta para
que voasse até à capital. Com efeito, numa manhã de janeiro de 1887, os dois
amigos estão a comer em Lisboa no Hotel Bragança. Ega conta-lhe as novidades: a
sua mãe morrera, a Gouvarinho herdara uma fortuna de uma irmã, Alencar tomara
agora conta da sobrinha, o general Sequeira Morrera, D. Diogo casara com a
cozinheira, Crugues escrevera a ópera cómica Flor de Sevilha, com a qual granjeara reconhecimento, Craft
mudara-se para Londres e Steinbroken era agora ministro em Atenas. Carlos
achava a gente da cidade molenga e acabrunhada, mas Ega contrapôs que Lisboa
fazia toda a diferença, e queria-o levar a ver a Avenida (que iria ser da
Liberdade), recentemente aberta. Combinam fazer um jantar no Ramalhete e pelo
caminho encontram Dâmaso, casado com a filha de um comerciante falido, era
agora ele que sustentava aquela família, e a mulher traia-o. Eusebiozinho
casara com uma mulher gorda e desconforme, obrigado pelo pai que o apanhara a
namorar numas escadas. Ega confessou-lhe que a política se tornara moral e
fisicamente nojenta desde que começaram a atacar o constitucionalismo. Carlos
verifica que Portugal não tinha mudado muito, continuava em decadência. Entram
no Ramalhete mas ele é agora uma sombra do que fora, grande parte dos tapetes,
louças e estátuas, Carlos mandara levá-las para Paris. Agora estavam ali alguns
móveis vindos da Toca. Ega quis saber como estava Maria Eduarda, e ele
disse-lhe que ela tinha comprado uma quinta em Orléans e ia casar com um tal
Mr. De Trelain. Deu aquela notícia como se ela tivesse morrido. Não herdara a
legítima, mas acordaram com o Vilaça a que recebesse uma doação de doze contos
de reis. Saem os dois do Ramalhete, Carlos está desiludido, a vida era uma
treta, nada vali a pena, era os dois vencidos da vida. Já na rua tiveram de
correr para apanhar o “Americano”, a que divisaram a lanterna vermelha no
escuro.
Lisboa na
segunda metade do século XIX, vendo-se aqui o então Terreiro do Paço
5º
UMA APRECIAÇÃO MUITO GERAL
Os
Maias é um livro extenso e complexo, expoente do Realismo em Portugal, mas
ainda com uns restos de Romantismo à mistura, a que não se conseguiu furtar.
Aborda com grande mestria a sociedade portuguesa do seu tempo, concentrando-se
sobre a cidade de Lisboa, que a representava, e sob os mais variados prismas,
embora não fale ainda muito da classe trabalhadora, ali reduzida a criados, governantas
e cocheiros. Está repleto de análise crítica social e crítica de costumes. E
não é para admirar, pois no fundo o romance é uma mistura de dois trabalhos: Cenas da Vida Portuguesa e Episódios da Vida Romântica, de que
andou às voltas com o editor de 1878 a 1888.
Eça de Queiroz critica tudo, e de
forma contundente, impiedosa. Na política fala de políticos medíocres, sempre sob
a ameaça do deficit e da bancarrota,
até parecia prever que o regime ia desabar na República. Não se apostava na
cultura, persistiam as correntes ultrarromânticas, que governavam as coisas
pelo sentimento, não pela razão. Na educação também estávamos a falhar, ou era tradicionalista
ou estrangeirada. Na imprensa imperava o sensacionalista, o partidarismo, e
aceitava-se o suborno. Carlos exclama ao se chegar do estrangeiro que as
pessoas lhe pareciam molengas e acabrunhadas. A aristocracia e a burguesia eram
ignorantes e ociosas, viviam das aparências, eram provincianas e moralmente
pouco exemplares. O país estava em decadência. Contudo, esta mesma crítica se
poderia fazer ao país em 2019, com políticos partidaristas, (ainda que alguns
tenham assumido lá fora cargos importantes); grande corrupção a todos os
níveis; políticas de curto alcance, despesistas, e constante ameaça do défice.
E o país continua centralizado, Portugal é Lisboa (hoje estendeu-se mais ao
Litoral) e o resto é paisagem.
Porém, temos que admitir que o livro
analisa a realidade sob a lente obscura do negativismo e do pessimismo. Ele
exagera um pouco nas suas críticas à sociedade portuguesa do seu tempo, que
indo mal, lá se ia aguentando, afirmando-se à comunidade internacional. O
exemplo disso é-nos dado pelo próprio Ega, o alter-ego de Eça de Queiroz, visível
no seu aspeto magro e esgrouviado, que usa monóculo e pensa seguir a
Diplomacia, acha que nada vale a pena e anda às voltas com um livro constantemente
adiado, que era apenas a história de um átomo. Ora Eça de Queiroz, que também usava
monóculo e era magro, não era um boémio, seguiu com êxito a carreira
diplomática, não escreveu um livro, mas muitos e bons, e achava que a vida
valia a pena, casou e teve filhos, prosperou, ainda que visse o país sob um
ponto de vista crítico. Ele obscureceu a realidade do seu tempo para obter um mais
forte efeito crítico.
A linguagem que emprega é elegante e
precisa, refinada, usa um léxico erudito e cosmopolita, é minuciosa e possui
elevado poder descritivo, recorre muitas vezes ao Francês e até ao Inglês, línguas
que domina, e a palavras estrangeiras recentemente importadas (estrangeirismos),
mas isto estava então na moda, como resultado da industrialização e do
progresso. Cultiva a ironia ora com excecional subtileza, ora de forma
corrosiva. Recorre a imagens muito sugestivas e originais, a belas comparações
e expressivas metáforas. Os diálogos soam-nos com muita naturalidade. O
discurso indireto é por vezes livre, confundindo-se o narrador com a personagem.
Usa frequentemente o diminutivo para designar as personagens mais desprezíveis,
realçando a sua caraterização negativa, emprega bastante o gerúndio, é um
inovador.
A obra de Eça de Queiroz é muito influenciada
pela literatura francesa, e neste livro isto é ainda mais notório, quando se
refere à Casa Balzac, nome do fundador do Realismo, de que Eça de Queiroz é seu
admirador. Ele apenas está a cortar com o Romantismo e a alinhar com a nova
corrente literária, o Realismo, era natural e até legítimo que ali fosse buscar
muita sua inspiração. Se pertencesse a um grande país teria uma maior projeção na
literatura ocidental. Está escrito de forma intensa, possui um enredo dramático
e intrincado, estendendo-se por três gerações, que analisa com grande rigor e
profundidade, com uma grandeza ao nível de Guerra
e Paz de Leão Tolstói, embora sem grandes batalhas, mas com mais crítica de
costumes, ou de Um Homem sem Qualidades
de Robert Musil, tratando todos os temos com grande profundidade, mas a que lhe
falta o sentido de humor. Os Maias é uma
das obras-primas da Literatura Portuguesa e mundial.
(Ficou grande demais… a precisar de
revisão)
Martz Inura
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