GIUSEPPE TOMASI DI LAMPEDUSA
O Leopardo
Tradução de José Colaço Barreiros
TEOREMA . TINTA PERMANENTE
O
HOMEM
Giuseppe
Tomasi di Lampedusa nasceu em Palermo, em 23 de Dezembro de 1896, e faleceu
em Roma em 23 de Julho de 1957. Era filho do Príncipe de Lampedusa. Uma única irmã que teve faleceu precocemente. Foi criado sob a influências da cultura francesa
e inglesa, como devia ser um Príncipe. Fez o liceu em Roma e Palermo e
matriculou-se em Direito, mas em 1910 era chamado para o exército italiano, acabando
por ser feito prisioneiro pelos austríacos na Batalha de Coporetto. Do campo de
prisioneiros para onde o levaram, na Hungria, fez uma plano de fuga, e veio dali
a pé até à Itália, sendo à chegada sido promovido a tenente. Regressou à Sicília. Em
1932 casa com Licy, natural da Letónia, mas ela dá-se mal com a mãe e ele
manda-a para o seu país. O pai, cujo papel fora abafado pelo da mãe, super
protectora, faleceu em 1934. Em 1940 é mobilizado de novo para a guerra, e pouco
depois desconvocado –, tinha as suas propriedades a tratar. Refugia-se então com a mãe, sempre muito presente na vida
dele, em Capo de Orlando, a que se vem juntar a sua mulher, Licy. Com a morte
da mãe regressa a Palermo com a esposa. Entretanto, o seu palácio tinha sido destruído
pela guerra. Foi depois de ter passado uns dias nas ternas de San Pellegrino com Eugenio Montale e Maria Bellonci, que resolveu escrever O Leopardo, em 1956. Os editores que contactou recusaram-se a publicar o livro. Cria então afinidades com jovens intelectuais e inclina-se para Gioancchino
Lanza, que adopta como filho.
A
OBRA
Giusepp di Lampedusa foi mais um
cultor da literatura que um escritor, escreveu ainda A Alegria e a Lei e pequenos ensaios. A sua obra-prima é:
– O Leopardo (1956). Publicado em 1959, um ano e meio depois da sua
morte.
SOBRE
O ROMANCE, O Leopardo
Espécie africana do gattopardo, extinto na Itália no século XIX
Personagens
Principais
– Dom Fabrizio Corbera: Príncipe de Salina é um nobre que se vê obrigado a deambular por um período conturbado da História
da Sicília, entre os Bourbons e os Sabóia. De modo sábio lá resistindo à
mudança com a sua filosofia de que “É preciso que alguma coisa mude para que
tudo fique na mesma”. Era casado com Maria Stella, e tinha sete filhos e
filhas.
– Tancredi Falconeri: Sobrinho predilecto de Dom Fabrízio, que,
contra a vontade deste adere às forças de Garibaldi, ao Risorgimento italiano, pondo em risco os seus privilégios. E depois
vai casar com Angélica, filha de um burguês, embora rico. Era um tanto céptico
e conservador, bem relacionado e oportunista – um elemento da nobreza que vai
mais à frente, com uma nova filosofia de vida, apoderar-se do poder político e
económico.
– Padre Pirrone: Um eclesiástico tradicionalista, mas bastante
sabedor, que procura não desagradar as nobres seus protectores, sem esquecer os
seus paroquianos, vendo com alguma indulgência os desvios destes.
– Dom Calogero Sedàra: Pai de Angélica. Burguês, presidente da
câmara, homem endinheirado que procura estar ao lado dos vencedores, dinâmico, com
um sentido oportunista para o negócio. A mulher nem as horas sabia ler, e ficada a maior parte do tempo trancada em casa.
– Dom Ciccio Ferrara: O guarda livros, que serve fielmente o
Príncipe, embora seja liberal, a quem faz confidências nas suas reuniões e
caçadas.
– Angélica: Jovem que consegue um bom casamento com Tancredi, e tenta
adquirir o requinte da nova classe em que se insere. Vem ao fim, já imbuída com
as novas ideias, com o senador Tassoni visitar o palácio e certificar-se do
valor das suas relíquias
– Concetta, Carolina e Catarina: São as três irmãs que
herdaram o palácio dos Salina, o qual tem uma capela privada cheia de
relíquias, que a própria Igreja, a renovar-se com Pio X, vem examinar.
Submersas em crenças, beatas, conservadoras, são o arquétipo de um mundo que se
fina.
Resumo do Livro
Do filme de Luchino Visconti, as personagens Tancredi, Angelica e D. Fabrizio
interpretadas por Alain Delon, Claudia Cardinali e Burt Lancastre
Primeira Parte – Maio de 1860
O
livro começa com a apresentação do Príncipe, Dom Fabrizio, no seu palácio da Villa Salina, descrevendo os
seus cómodos e os seus jardins. O símbolo da sua família é o gattopardo, aqui traduzido por leopardo,
animal felino extinto na Itália no século XIX. Segue-se uma conversa com
Tancredi, seu sobrinho, e depois com o padre Pirrone, dando a conhecer os seus
problemas administrativos e as ideias políticas que então o preocupavam. A
Sicília, nas vésperas da unificação italiana ainda tinha uma estrutura social
quase medieval. Dom Fabrizio, o Príncipe, com uma mulher distante e os filhos,
cada um para seu lado, tem uma amante, Mariannina. O padre Pirrone sabe do
caso, mas como seu aliado de classe terá de perdoar sempre os seus pecados. Desembarcaram
por fim na ilha as forças piemontesas de Garibaldi, o que levanta a hipótese de se
refugiar nos barcos ingleses ali fundeados.
Segunda Parte – Agosto de 1860
Cada cidade tinha o seu Príncipe, e
Dom Fabrizio prefere refugiar-se na sua casa de província, em Donnafugata, e faz os preparativos
para a viagem com armas e bagagens. Segue-se a viagem e a recepção pela população daquela
terra, que gosta de receber bem o seu Príncipe. Dom Calogero Sedàra presidia
ali à câmara. Há uma cerimónia na igreja, e a seguir um lauto jantar. O autor
descreve em pormenor o Palácio de Salina com os seus tapetes extravagantes, as
suas figuras mitológicas. Conversa com o seu administrador, Dom Onofrio, a situação é má, talvez
tenha que vender alguma das suas propriedades. O banho, a recepção ao padre
Pirrone. Está já presente Tancredi. As refeições sequem a etiqueta, os filhos
com menos de quinze anos estão excluídos da mesa. No dia seguinte tinha de ir
ao mosteiro rezar à beata Corbera ali sepultada.
Terceira Parte – Outubro de 1860
O príncipe vai à caça com Dom Ciccio
Tumeo, à chegada a Donnafugata foi bem recebido, mas os tempos tinham mudado, tinha de enfrentar uma revolução
burguesa a afirmar-se. Continua ali e recebe uma carta de Tancredi dando-lhe
conta da situação, e anunciando o seu relacionamento com Angélica, e isto é
mais uma machadada no seu amor-próprio, ele casar-se com uma mulher do povo. Todavia,
tinha de aceitar o facto, Dom Calogero ia dar-lhe um dote irrecusável. A
burguesia estava a enriquecer e a nobreza a endividar-se. Há um plebiscito,
algo impensável. Estava consciente que ia perder muitos dos seus antigos
privilégios. Mais uma caçada em que sabe mais coisas de Dom Calogero, que lhe
vem pouco depois saber notícias de Tancredi. Ali se fala dos amores deste com
Angélica, que Dom Calogero acalenta e Dom Fabrizio condescende, algo contrafeito.
Quarta Parte – Novembro de 1860
Aumentam os contactos entre Dom
Fabrizio e Dom Calogero, com este a tentar a adaptar-se aos requintes da
nobreza. Segue-se uma visita de Angélica ao palácio, em que Dom Fabrizio vai
ter a oportunidade de conhecer melhor a jovem. Via-se que ela ansiava por
aquele casamento, e ele falou-lhe das virtudes do sobrinho. Chegam depois
Tancredi com o seu amigo piemontês, conde Carlo Carvriaghi, este manifesta
interesse por Concetta, mas ela rejeita-o. Tancredi quer mostrar o palácio a
Angélica, cheio de segredos. Naquela aventura, eles viveram ali os dias mais
felizes da sua vida. Chega pouco depois o inglês Chevalley com a proposta do
governo de Turim, a primeira capital da Itália, para ele assumir um lugar no
Senado, mas ele rejeita-a liminarmente. Tem o seu amor-próprio: Os sicilianos
nunca hão-de querer melhorar, porque são perfeitos, Eram velhos de vinte e
cinco séculos, habituados à mudança. Mas claro, não pode hostilizar a República.
Quinta Parte – Fevereiro de 1861
Uma visita do padre Pirrone, de
origem aldeã, à sua terra natal, nos arredores de Palermo. Saíra dali aos
dezassete anos para ir para o seminário. Foi recebido pela mãe e por duas
irmãs, o pai tinha falecido. Logo ali chegado se dirigiu para igreja, onde
tinha muita gente à sua espera e rezou missa. À tarde vieram os amigos cumprimentá-lo.
Aqui se vê o poder da Igreja. Entre eles estavam os irmãos Scirò e o ervanário.
Falou-se da possível confiscação futura de bens eclesiásticos. Os amigos
fazem-lhe perguntas sobre a nobreza, a quem serve, e sobre a situação, ele diz
que os tenta sossegar, e quanto à revolução, que se esta classe desaparecer,
outra se constituirá equivalente, com as mesmas qualidades e defeitos. Vê-se
aqui que o clero e a nobreza são aliados, nesta luta contra a burguesia. O
padre Jesuíta encontra Sarina, de dezassete anos, a chorar, tinha tido um caso
com um familiar do padre e afastou-se, e ele foi falar com para o convencer a
casar com ela, rasgando um papel privado que tinha da herança do pai –, sempre a força do vil metal a funcionar.
Sexta Parte – Novembro de 1862
Há uma grande reunião de família e a
realização de um grande baile, em que também vai a princesa Maria Stella,
esposa de Dom Fabrizio, e as filhas. Seguem numa caleche até ao Palácio dos Pontaleone,
onde se juntam velhos e novos. Vem Dom Calogero, vem Tancredi, filhos e netos.
Angélica é industriada para ter um comportamento de dama nobre. As mulheres
estavam extasiadas, e para tudo evocavam a exclamação: “Virgem Maria!”. Dom
Calogero continua metido em negócios. Dom Fabrizio dança com Angélica, mas naquele
ambiente mundano sente-se um extraterrestre e vai refugiar-se na biblioteca. Pôs-se
a observar um quadro “com uma boa cópia da morte do justo e começou a reflectir
sobre a sua própria existência. Isto levou-o a pensar em reparações no túmulo
da família. Há a ceia. Estava já num tempo em que Itália se formou por
milagre, quer dizer, não se percebe como.
Ele, que não está muito convencido com a nova situação, confessa: Nunca
estivemos tão divididos como desde que estamos unidos. Virgem Maria! O baile
prosseguiu quase até de manhã, quando regressam a casa.
Sétima Parte – Julho de 1883
Nesta sexta parte há um grande salto
no tempo. O Príncipe de Salina está um pouco envelhecido, hospedado no Hotel
Tinacria, em que já parece cortejar a morte. Vai a Nápoles, “uma cidade paranóica”, com a sua filha Concetta e o seu neto Fabrizietto consultar o
professor Sémmola. Regressou a casa com Tancredi, mas desmaiou: eram
exactamente de um bebé as suas forças. Foram-lhe buscar os medicamentos,
viu-se ao espelho e viu o velho em que se transformara. Veio um criado apoiá-lo.
Há um grande silêncio à sua volta, embora dentro de si tudo estremeça. Pensou
no padre Pirrone, também ele já tinha morrido. Havia os filhos, mas eles
estavam cada vez mais desligados dele, bem como os netos. Está cada vez mais
fraco, houve a voz de Concetta, Teve uma síncope. Ele ainda não queria morrer,
mas tinha de receber a extrema unção, aceitar a morte como um Príncipe com um padre
e tudo. Veio o Santíssimo. Ele ali estava, a soçobrar ao tempo: não era um
homem, era um avô, o que é bastante diferente. De repente, sente-se rodeado
dos seus, e depois o fragor do mar acalmou-se completamente.
Oitava Parte – Maio de 1910
Villa Salina está agora na posse por
herança das três meninas Concetta, Carolina e Catarina, filhas de Dom Frabrizio,
que já tinha falecido há muito. Um salto ainda maior no tempo. Elas são meninas já casa dos
setenta anos, muito beatas, pouco instruídas, tomadas pela crendice. Têm ali
uma capela cheia de relíquias, tantas que levou o cardeal de Palermo, numa nova
igreja chefiada pelo Papa Pio X, a mandar ali alguém averiguar da sua santidade
para expurgar dela o que fosse profano e a reconsagrar a capela. Repare-se, a
própria Igreja tinha mudado. Elas
resistem quanto podem a este exame. Veio ali Angelica com o senador Tassoni e
falam de Tancredi, e ainda de um namorico de Concetta na juventude, que a deixa
muita afectada. Das relíquias salvaram-se cinco relíquias, entre as quais a
Nossa Senhora de Pompeia, que até pelo nome não nos merece muito crédito. As
irmãs lá acabam por aceitar a decisão do sacerdote Pacchiotti, que ali veio
fazer a inspecção. O que restou foi depositado num cesto para se deitar ao
lixo. Depois, tudo recuperou a paz num montinho de pó lívido.
Apreciação
geral do Romance
Trata-se de um romance histórico,
numa Sicília quase medieval, a integrar-se numa Itália que andava à procura da
sua consciência nacional – o tal Risorgimento
italiano. O livro estende-se de 1860 a 1910. De um lado está o Príncipe,
Maquiavel já tinha escrito o seu, enfim, a nobreza, no poder temporal há
séculos, de que se destaca agora Dom Fabrizio, Príncipe de Salina, acompanhada
da Igreja, com o poder espiritual, sua aliada, classes até então ali dominantes; e
do outro lado está a burguesia, cada vez mais rica e próspera, a apoderar-se do
poder, juntamente com o povo, submisso e ignorante, mas ainda assim curioso,
com apetência a intervir no curso da História.
O livro começa com descrições muito
simples da vida de então, evocando um tempo morno, por vezes dispersa-se, pode até parecer
monótono, como quando gasta um capítulo inteiro com o Padre Pirrone, necessário
para retratar o prestígio que ali tinha a Igreja. Torna-se assim, menos absorvente,
por outro lado não possui um grande amor a impulsioná-lo, um segredo qualquer
que agarre de imediato o leitor, daí que muitos editores tenham inicialmente
recusado publicar esta obra, para grande desgosto do seu autor, que nele evocou
a vida da sua família, dando-lhe um colorido quase autobiográfico.
Porém, uma leitura menos apressada,
que vá mais longe na análise das questões, permite que se chegue ao veio onde
reside a grande grandeza deste romance, o grande rigor histórico com que o
autor descreve aquela Itália em formação, e sobretudo a sua ancestral Sicília, mostrando
Dom Fabrizio, Príncipe de Salina, a defrontar-se com uma nova sociedade, em que
emerge uma burguesia próspera, sedenta de poder, que lentamente tenta acabar com os seus
privilégios. Ali se descreve também o papel da Igreja, aliada da nobreza; e
ainda o povo mais humilde, à espera de ver no que tudo aquilo vai parar.
Quanto a nós, para além da
componente política, que nos recria aqui magistralmente, a parte mais forte do
livro é o seu poder descritivo, em que as personagens se revelam exaustivamente
sobretudo pelo seu comportamento, exposto aqui nos seus pormenores mais ínfimos;
na forma pitoresca como nos retrata o meio em que elas se inserem, referindo-se
aos palácios, ao casario, ao vestuário masculino e feminino, à vegetação
circundante, ao tempo atmosférico, às comidas e bebidas, aos usos e costumes,
ele faz, digamos, uma descrição quase fotográfica de tudo o que vê,
reconstruindo com grande minudência aquela época. Utiliza uma linguagem solta,
sem grandes artifícios, ainda que por vezes carregada de nostalgia. Daí não
ser difícil a Luchino Visconti adaptar esta obra ao cinema.
Houve quem criticasse Giuseppe di
Lampedusa por escrever um romance saudosista, voltado para um tempo arcaico,
desdenhando do progresso, da evolução, da revolução, mas quanto a nós parece
que ele tenta ver desapaixonadamente uma época histórica, que temos que
analisar para aprendermos com ela alguma coisa. Há aquela parte em que ele disse: É preciso que alguma coisa mudem para que tudo fique na mesma, ou de outra maneira ainda mais subversiva: Para que as coisas fiquem na mesma, é preciso que tudo mude. Ora esta ideia, na sua raiz é reaccionária. Se não vejamos: esta frase, se tem uma meia verdade, as coisas têm de mudar, e é um
facto; tem uma outra meia verdade, irónica, é certo, que é a da revolução ter de ser feita para que
tudo fique na mesma. Com esta afirmação maquiavélica, o Príncipe pretende dizer-nos que as coisas irão mudar muito, ou que não irão mudar assim tanto.
Tomasi di Lampedusa era um homem
envolvido na cultura, interessado pelo progresso, ligado aos jovens intelectuais,
talvez desiludido com a História, de que nos procurou dar um pequeno extracto siciliano, não só o físico como psíquico, não só o político como o social,
feito com algum distanciamento, consciente de que a sociedade evolui, mas não da
forma como muitos apregoam, ela vai-se reproduzindo noutros patamares do tempo,
usando os arquétipos das sociedades anteriores, não muda assim tanto, de outro
modo perderia a sua identidade. Repare-se que ao fim do livro ainda foram preservadas cinco
relíquias, não foram todas eliminadas, e isto é revelador, só o resto é que foi
parar às cinzas, em que tudo se fina, numa doce melancolia. Belo livro!
5.5.2018
Martz Inura
Martz Inura
“Tem que mudar alguma coisa para que tudo
fique na mesma”. Com esta declaração Lampedusa quis dizer que as coisas não
mudam assim tanto em política, há sempre uns tantos com maior sentido de
oportunidade, muito naturalmente progressistas, ou reformistas pelo menos, que se
apropriam das benesses da sociedade. “Temos de mudar alguma coisa para que tudo
fique na mesma” não é uma frase correcta, esta afirmação tem uma meia verdade,
muda sempre qualquer coisa, vejam-se as revoluções, quando tudo está encalhado.
Porém, não mudam assim tanto, e isto é a parte irónica do seu pensamento. Esta
realidade, redescoberta na Sicília, pode ser comprovada pelo mundo inteiro.
Aqui em Portugal, houve um tempo em que estava no poder: a Ditadura e o Fascismo para uns, e
a União Nacional para outros. Estava lá no poder Marcello Caetano, Presidente
do Conselho, todo-poderoso, proeminente figura do Estado Novo. Ora bem, mais
tarde apossou-se desse mesmo poder o seu afilhado, Marcelo Rebelo de Sousa, que
foi do Partido Popular Democrático, eleito Presidente da República. Outro
exemplo ainda, e não os maço mais. Estava lá então na ribalta da política
António Ferro, grande jornalista, ideólogo da Ditadura, o inventor do
Salazarismo. E agora está lá um seu descendente, Eduardo Ferro Rodrigues,
Presidente da Assembleia da República, influente figura do Estado, nascido no Movimento
de Esquerda Socialista e criado no Partido Socialista. No fundo são as mesmas
famílias a tomarem conta do país. O povo diz: “A caca é a mesma, as moscas é
que mudam”. Não será bem assim, o povo é irreverente. Se disse isto não foi
para ofender ninguém, só citei estes nomes por serem de pessoas altamente respeitáveis.
A Democracia é uma grande conquista da humanidade, e a Liberdade, um bem
precioso. E a Democracia, inventada da forma deturpada como foi, pelos Gregos, também
dá liberdade para se piorarem as coisas, de as tornarmos mais injustas, e é
isso que ela devia evitar. No tempo de El-Rei, D. Manuel I, a diferença dos
vencimentos, digamos assim, funcionários públicos, seria de um para três, e
presentemente será de um para dez, os mestres que façam teses de doutoramento a
precisar estes dados, tirados por alto. Bem, mas para que é que eu estou aqui a
falar disto? Até parece que estou a fugir da literatura, e muitos poderão considerar
estas ideias lampedusescas, eticamente incorrectas, filosoficamente equivocadas,
historicamente não comprovadas, e ainda me poderei prejudicar. Eliminar, já! O
problema é que as polícias políticas de hoje sempre poderão vir aqui a casa recuperar
estes ficheiros no computador, ou tirá-los dos dados na Internet. Para que fui eu
pensar nisto, que pequei?!
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