TIAGO MOITA


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TIAGO MOITA
O Evangelho do Alquimista
CHIADO EDITORA
O HOMEM
           
           Tiago de Vasconcelos e Moita nasceu em Abril de 1975 em Lisboa, e vive actualmente em João da Madeira. Estudou Direito na Universidade Lusíada do Porto. Mais recentemente concluiu um mestrado em Reiki. Desde cedo que se interessou pelas letras, pela declamação de poesia, tem grandes qualidades de animador cultural. É um jovem escritor de quem há ainda muito a esperar.


A OBRA
            Na sua obra há a destacar:
                        − Ecos Mudos (2006) - Poesia
                        − Post Mortem e Outros Uivos (2012) -Poesia
                        − O Último Império (2012) - Romance
                        − O Evangelho do Alquimista (2016) - Romance

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O ROMANCE, O Evangelho do Alquimista
            
            − Algumas ferramentas para ler o romance
Para se facilitar a leitura do livro é importante ter uma ideia, ainda que sumária, dos seus sete bairros, de onde emergem as teorias, as  ideias, de cujo confronto, porventura resultará uma filosofia redentora para o mundo, e que são:
 O Bairro Gogito, de cor verde, dos Methodicus, sem metafísica ou religião, voltado para a lógica, para a ciência, tipo Descartes, Locke, Comte, chefiado por Metheos;
O Bairro Rubro, vermelho, do Estado forte, centralizado, comunista, inspirado por Karl Marx e Lenine, aqui ocupado pelos Rebeleus, chefiados por Graco na Casa do Povo;
O Bairro Extasis, arco-íris, dos permissivos, dos amantes da liberdade, chamados Niilisteus por serem um tanto niilistas, tipo Nietzsche, chefiados no Palácio Olimpo por Faustus;
O Bairro da Dialética, de cor bege, dos cultores da palavra, por isso Filingus, tipo Italo Calvino e Wittgenstein, chefiados por Otto Gräss no seu Palácio-biblioteca Lexic;
O Bairro Selectus, branco, da evolução e da eugenia, da selecção natural e da raça eleita, sisudos e selectivos, por isso Seleceus do tipo Darwin e Galton, chefiados por Simon Beagle;
O Bairro Anguscius, cinzento, soturno e cético, do tipo Sartre, Camus, Heidegger, por isso Dúbios, chefiados por Simone Dumonde no Palácio da Orquídea Negra;
Por último o Bairro da Cornucópia, dourado, do capitalismo, do luxo e da ostentação, dos Averos e da avareza, tipo Adam Smith, Ricardo e Stuart Mill, chefiado por Raul Rabel do Palácio-Bolsa Pluto.
             − Breve súmula do romance e principais personagens
O livro gira à volta da personagem de Samuel, um modesto caixeiro-viajante, que, arvorando-se em Profeta, na sua carrinha mágica deambula à volta da cidade de Distopia (da Utopia), um mundo em decadência, perdido no Grande Deserto (que será a Terra esvaziada de humanidade).
Do seu Palácio da Montanha Mágica, o tirano Zarat governa despoticamente a cidade. Dois homens ajudam-no nesta tarefa: Ptolomeu como conselheiro principal e Salomão à frente do projecto VHCruz. Para garantir a ordem dispõe de um exército, a Guarda Zaratista, comandado por Metello, e dos agentes Nicole e Nicolau. Há ainda o Grande Conselho com funções consultivas e um governador do Banco Central chamado Zarco.
Zarat e toda a sua equipa são os garantes da ordem estabelecida e vão ter que enfrentar a rebelião de Samuel, um Profeta revolucionário para quem o ser humano é constituído por corpo, mente e espírito, e que numa autêntica viagem espiritual pelo planeta vai tentar contrariar a ideia então prevalecente na humanidade de que o mundo não era um milagre, mas uma máquina.
Este Samuel será um Jesus Cristo da Era da Técnica, de repente transformado num Profeta dos tempos modernos, evangelizando os gentios e fazendo discípulos. Há um capítulo, em que ele e o Profeta tomam uma só voz, desafia-se o autor a descobri-lo. O livro é digno de mais de uma leitura. A páginas 516 está escrito: "Assim pregava Zaratustra" (660-583 a. C.), e a páginas 596, "Assim pregava o Alquimista", até que ponto aquele Profeta inspirará Samuel? Toda esta epopeia se desenvolve no sentido de descobrir o tal Éden, há muito perdido.
− Uma apreciação geral
No essencial o livro narra a vida de um Profeta, com muitos paralelismos com a passagem de Jesus Cristo pela Terra, mas com objectivos algo diversos. Ali também há uma virgem, uma Magdala (Madalena), uma Lei dos 10 Compromissos, a Tentação de Samuel, a Última ceia, e a Crucificação, aqui com a VHCruz radioactiva. Face ao gigantismo do livro, o autor dispersa-se por muitas personagens, frequentes pelejas, longas prédicas, grandes orgias, que servirão complexificar a narrativa e adensar o mistério à missão do Profeta. A sua linguagem é erudita, normalmente eivada de maravilhoso, embora por vezes decaia no calão. No livro fala-se de Hisler, o Hitler de Nostradamus, ter ido para o céu, ideia que é no mínimo controversa, mas que poderá ter como contrapeso a ideia de uma imolação necessária à salvação, já tentada em Abraão e efectivada em Jesus Cristo, ainda que o romance nos pretenda distanciar dessas crenças. 
Tirando pequenos reparos que se possam fazer a este jovem autor, que ainda está numa fase de maturação, Tiago Moita manifesta neste livro uma elevada cultura e não menor imaginação, revelando potencialidades de um grande escritor. A sua reinvenção de um Jesus Cristo com influência oriental em busca de um mundo melhor parece bem conseguida. O romance está escrito com fluência, frequentemente com a grandiosidade de uma epopeia, conduzindo-nos em peregrinação a um Mundo Melhor. A dinâmica com que está imbuído faz-nos lembrar As Cidades Invisíveis de Italo Calvino, terá ainda transparências de Esperancidade de MartzInura, mas outras influências salutares terá, como a irreverência de Illuminae de Amie Kaufmann e Jay Kristoff, com o seu profeta. A sua deambulação pelas diferentes teorias que orientam a humanidade fazem-nos reflectir – caminhar em direcção à compreensão e à tolerância –, é um livro enriquecedor. Não um livro que vá de encontro ao facilitismo de autores que busquem gratuitamente temas como “Deus”, “Papa”, “Cristo”, “Vaticano”, que, ainda que baseados numa enxurrada de documentos, são tratados com pouca profundidade, e pensados com uma filosofia de café, procurando o mero entretenimento, as vendas, explorando a superficialidade e a ligeireza, as crendices actuais.
Não é, pois, um romance fácil, feito de vulgaridades, um thriller escrito à pressa para sair um pouco antes do Natal. Embora tenha lá alguns desses ingredientes – o segredo, a tensão curiosa –, tem muita elaboração. Trata-se de um romance de cariz filosófico, um romance de ideias, uma ficção transporta para o futuro, com legítimas pretensões a enquadrar-se na tradição da alta Literatura Ocidental. Idealiza um mundo com o Homem Noeticus numa Holocracia Democrática, portanto global, circular, sem chefes. É uma saga generosa no sentido de desbaratar a realidade e nos transportar para um universo não só mais racional como mais espiritual, mais humano, onde finalmente haja paz, harmonia e progresso. Enfim, o Éden há muito perdido, que afinal está ao alcance de nós próprios, não dependendo de poderes transcendentes. Mas sejamos lúcidos, apesar de o mundo estar em progressão geométrica, permanece violento e  injusto, e os seres humanos que o habitam continuam carregados de instintos primários, todos os sábios e profetas do passado fracassaram neste desiderato grandioso, contudo, este é um ideal louvável e legítimo que Tiago Moita aqui persegue, e que tem acompanhado todos os homens (e mulheres) de boa vontade. O Evangelho do Alquimista é um livro que se recomenda.
19/10/2017

Martz Inura

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