WILLIAM
SHAKESPEARE
Hamlet
PEÇA DE TEATRO
Tradução L. Pereira Gil
EDIÇÃO AMIGOS DO LIVRO
O
HOMEM
William
Shakespeare nasceu em Sratford-upon-Avon, uma pequena cidade do
Warwickshire, na Inglaterra, em 26 de Abril de 1564. Os seus pais eram pessoas
do campo, não muito abastados, ainda passaram por dificuldades. Concluído o
Liceu, William foi trabalhar para uma fazenda, onde viria a conhecer aquela que
viria a ser a sua mulher, Anna. Dela teve três filhos. Movido pela paixão do
teatro, por volta de 1859 partiu para Londres a fim de se aperfeiçoar como
actor. Começou por escrever alguns livros de poesia, como Vénus e Adónis e A Violação
de Lucrécia. Porém em 1592 surgiu a Peste Negra em Londres e os teatros tiveram
de fechar. Voltando pouco depois à cena, logo de início intervinha muito no
ensaio das peças, mostrando já muita sensibilidade, um elevado sentido crítico
– diziam que era metediço. Só mais tarde é que foi reconhecido como bom actor e
ainda mais como autor. Animado pelo seu editor, em 1594 começou a fazer parte
da Companhia do Camareiro, ligada à Corte. Os monarcas de Inglaterra mandam
erguer o Teatro Globo nas margens do Tamisa, onde ele passou a dirigir a suas
peças e a ter grande êxito. As peças divergiam entre as comédias, a tragédias,
as tragicomédias e os dramas, quase todos históricos. Porém em 1611 compra uma
bela casa na sua terra-natal e para lá se transferiu. Muito solicitado, ainda
volta em 1616 a Londres, mas regressou pouco depois, não o atraindo mais as
glórias do mundo. Morreu em Statford-upon-Avon em 23 de Abril de 1616, a três
dias de completar 52 anos.
A
OBBRA
Para além de peças de teatro
escreveu seis livros de poesia de elevada veia lírica. As suas peças de teatro
são mais conhecidas, e vale a pena aqui destacar todas, para ver como elas soam
alto aos nossos ouvidos:
Dramas:
– Vida e Morte do Rei João (1596)
– Ricardo III (1593)
– Ricardo II (1595)
– Eduardo III (1596) (Há quem conteste a sua autoria)
– Henrique IV (1597), duas partes
– Henrique V (1598)
– Henrique VI (1598), três partes
– Henrique VIII (1613).
Tragédias
– Tito Andrónico (1589)
– Romeu e Julieta (1595)
– Júlio César (1599)
– Hamlet (1601)
– Tróilo e Créssidra (1602)
– Othello, o Mouro de Veneza (1604)
– Rei Lear (1605)
– Macbeth (1606)
– António e Cleópatra (1607)
– Coriolano (1607)
– Timão de Atenas (1608)
– A Tempestade (1612).
Comédias
– A Comédia dos Enganos (1591)
– Trabalhos de Amores Perdidos (1592)
– A Fera Amansada (1592)
– O Dois Fidalgos de Verona (1592)
– Sonho de Uma Noite de Verão (1596)
– O Mercador de Veneza (1596)
– Muito Barulho para Nada (1598)
– Como lhe Agradar (1599)
– Noite de Reis (1600)
– As Alegres Comadres de Windsor (1601)
– Bem Está o que bem Acaba (1603)
– Medida por Medida (1604)
– Péricles (1608)
– Cimbelino (1609)
– Conto de Inverno (1610)
As suas peças de teatro são das mais
traduzidas do mundo, ainda muito representadas, delas se retirando argumento
para filmes, como Hamlet, O Mercador de Veneza, A Fera Amansada, Othello, Júlio César, A Tempestade, Como lhe Agradar, Romeu e
Julieta, entre outras menos óbvias. A sua obra inicialmente considerada de
muito mérito, só no século XIX, com o Romantismo, foi devidamente valorizada,
tenho hoje um reconhecimento universal.
A
PEÇA DE TEATRO Hamlet
PERSONAGENS PRINCIPAIS
Hamlet é o Príncipe da Dinamarca, filho
do já falecido Rei Hamlet, e sobrinho do presente Rei dinamarquês, Cláudio.
Cláudio é Rei da Dinamarca, subido ao
trono após a morte de seu irmão, o Rei Hamlet. Cláudio casou-se então com
Gertrudes, esposa do seu falecido irmão.
Gertrudes é a Rainha da Dinamarca e esposa
do falecido Rei Hamlet, mãe do príncipe Hamlet e agora casada com Cláudio.
Fortimbrás é sobrinho do antigo Rei da
Noruega e actual rei daquele país.
O Fantasma do pai de Hamlet, que lhe
aparece para falar que, na realidade, dizendo que foi envenenado por seu irmão
Cláudio.
Polónio é o camareiro, o
primeiro-ministro e conselheiro do Rei Cláudio.
Laertes é o filho de Polónio, vindo de
Paris para Helsingor
Ofélia é a filha de Polónio, e irmã de
Laertes, que vive com seu pai em Helsingor. Ela é apaixonada pelo príncipe
Hamlet. Ao fim terá morrido de amor.
Horácio é um grande amigo de Hamlet, que
se moveu a Helsingor com o intuito de presenciar o funeral do Rei seu pai.
Reinaldo, criado
de Polónio
Voltiman,
Cornélio, Ricardo, Guilherme e Henrique, soldados.
Francisco,
Bernardo e Marcelo, cortesãos.
PEQUENO RESUMO
I
Acto
É composto por 13 cenas. No castelo
de Helsingor forças da segurança trocam impressões e falam da sombra do Rei
Hamlet que tem sido vista, e se revelou a Horácio. Sob a eminência da guerra
entre a Noruega e a Dinamarca, Cláudio, rei da Dinamarca, manda emissários
àquele país para conseguir a paz com Fortimbrás. Entretanto o Príncipe Hamlet, a
estudar na Alemanha, regressa à Dinamarca para assistir aos funerais do pai e
ao casamento do tio com a mãe. Hamlet tem a recebê-lo o tio Cláudio, que lhe dá
aparências de uma grande afeição, e da maneira mais hipócrita manifesta uma
grande dor pelo acontecido. Mas Hamlet está descontente com aquele casamento
apressado da mãe. Suspeita que ele terá assassinado o pai para ficar com o
reino e casar com a mãe, a rainha Gertrudes. Entretanto Horácio e Marcelo levam
Hamlet a ouvir o espectro do pai a revelar-lhe os pormenores daquele hediondo
crime. Ali mesmo o pai reclama a vingança, que o filho se prontifica a cumprir.
II
Acto
Composto por 11 cenas. Para se
certificar melhor dos factos Hamlet finge-se louco. Polónio encarrega Reinaldo
de espiar seu filho Laertes em Paris. Hamlet encontra Ofélia, que ama, que o vê
mal vestido e desleixado e disso dá conta ao pai, Polónio. Este resolve ir
contar ao Rei Cláudio o facto. Ele parece louco. O Rei instrui os cortesãos
Ricardo e Guilherme para que descubram as razões daquela transformação. A Rainha
Gertrudes suspeita que o seu melindre se deverá ao seu recente casamento. Porém
Fortimbrás e Polónio pensam que a causa de tal transtorno se deverá a um amor
entre Hamlet e Ofélia mal correspondido. Hamlet faz um discurso conturbado
sobre o homem, quer dar a impressão de ter pouco siso, e planeia levar à corte uma peça para testar Cláudio e confirmar
a revelação do fantasma.
III
Acto
É composto por 28 cenas. O rei
Cláudio tenta saber do resultado da espionagem de Ricardo e Guilherme a Hamlet,
que está ansioso por representar a peça. O rei Cláudio e Polónio ouvem uma
conversa privada entre Gertrudes e o filho Hamlet. Entre Hamlet e Ofélia é
criado um ambiente hostil, quando ele suspeita dela o andar a espiar. Representada
a peça “A Ratoeira” em que se leva a cabo o assassinato de Gonzaga. Cláudio acusou
o toque, confirma a má vontade Hamlet e resolve enviá-lo para Inglaterra:
durante um solilóquio confessa o envenenamento do irmão. Há uma discussão entre
a rainha Gertrudes e o filho Hamlet no palácio, este pressupõe alguém atrás dos
reposteiros a espiá-los, desfere para lá um golpe de espada, mas é Polónio e
não Cláudio, que cai ali morto. Há ainda uma cena de Hamlet com o fantasma,
seguida de outra com a mãe, Rainha Gertrudes. Hamlet descobre o conteúdo perverso
de cartas do rei Cláudio.
IV
Acto
É composto de 24 cenas. O Rei
Cláudio e a rainha Gertrudes ficam sabendo do assassinato de Polónio. A rainha
interpela o filho. O Rei Cláudio está com medo de Hamlet, e resolve enviá-lo
para Inglaterra. Não se sabe onde está escondido o corpo de Polónio. Ricardo e
Guilherme, fazendo-se amigos de Hamlet tentam convencê-lo a dizer-lhes, mas ele
não acredita neles e vai falar com o Rei Cláudio. Hamlet diz-lhe onde está o corpo e
o Rei dá ordens para ele ser levado para Inglaterra, supostamente, para sua
segurança, mas a sua intenção perversa é que seja morto à chegada como traidor.
Fortimbrás está empenhado em invadir a Polónia, por uma mera questão de honra,
Hamlet não o podia acompanhar naquele momento conturbado. Laertes à chegada da
guerra é avisado pelo Rei Cláudio que Hamlet matou o seu pai, Polónio. A morte
do pai às mãos de quem ama leva à loucura sua filha Ofélia, que se afoga num
ribeiro.
V
Acto
Composto de 11 cenas. Preparativos
para os funerais. Conversa entre Hamlet e Horácio com o crânio de Yorick,
antigo bobo do rei, sobre a incapacidade do homem de controlar o seu destino depois
da morte. Durante a cerimónia depreende-se que Ofélia se suicidou e isto
indispôs os ânimos de Hamlet e Laertes, que era como um seu irmão. Hamlet
explica como conseguiu contrariar os propósitos do rei Cláudio de o mandar
assassinar, apoderando-se das cartas, cuja redacção alterou, em vez de ser ele
a morrer, essa ordem foi trocada para Ricardo e Guilherme. Face ao
desentendimento entre Hamlet e Laertes o rei Cláudio propõe que os dois travem
um combate no palácio. Manda porém envenenar a ponta da lança de Laertes, e,
para a morte de Hamlet não falhar, num intervalo da luta manda oferecer a este
uma taça com veneno. Mas acontece que durante a luta inadvertidamente os dois trocam
de espadas, e é Laertes que é atingido. Por outro lado a rainha Gertrudes,
acalorada com a luta do filho, antecipa-se a beber a taça envenenada destinada
ao filho. Porém, Hamlet já tinha sido tocado pela espada envenenada de Laertes e
está morrer, porém antes, disso trespassa o rei Cláudio com a sua espada. Pede ao
seu amigo Horácio para não se suicidar e contar aquela história aos vindouros e
recomendar Fortimbrás como rei da Dinamarca.
APRECIAÇÃO GERAL DA OBRA
Eis-nos perante uma obra que
humildemente nos declaramos pouco habilitados a comentar com a profundidade que
ela exigirá, pois nem os nossos conhecimentos de teatro são tão abrangentes que
a possamos ajuizar neste trabalho, ainda que modesto, nem quanto à linguagem os
nossos níveis de análise cheguem porventura à altura deste mestre. Mas temos
que o fazer para o ler e reler as vezes que forem necessárias, e mergulhados no
seu génio, assim aprendermos com ele. Este será também mais um propósito de o
homenagear. Hamlet é uma das
tragédias mais calamitosas da História, da qual resulta a morte de nove das
suas personagens principais.
Aproveitemos para reler mais devagar
esta extraordinária peça ou ver por qualquer processo a sua representação. Hoje
o tempo tornou-se omnipresente, quase todo o passado e o presente estão ao
ocorrer em qualquer lado. William Shakespeare não precisa de se pôr em bicos de
pés para ver e ser visto, de sofisticar muito o seu estilo ou de se preocupar
em ser original para que seja impressionante, a ele basta-lhe expressar-se com
a maior naturalidade do mundo, para que as suas palavras nos soem límpidas como
as das nascentes mais puras das altas montanhas, se revelem mais claras que as
manhãs solarengas de Abril, tão lúcidas como o brilho das estrelas, que em
noites cristalinas povoem o firmamento.
Ele conhece profundamente a alma
humana, o seu lado bonomioso e no seu lado cruel, a doçura e a ternura, a
beleza e a fealdade, a alegria e a tristeza, o amor e o ódio, a astúcia e a
estupidez, sabe auscultar e reproduzir toda a geografia de uma alma. E as
palavras na sua pena sendo simples são caras, adequadas à textura da vida, como
se a linguagem fosse um dom divino dado aos homens para ser utilizada em tom
solene, tivesse a força de um braço forte ou a grandeza de um mar, desse calor
ao coração e luminosidade ao pensamento, enfim, como se tudo o que se dissesse
fosse qualquer vibração sagrada para ser ouvida na presença de Reis ou de
Grandes Dignitários. Por trás da comédia, o drama ou da tragédia a vida assume
dimensões de poesia que torna a sua obra como um expoente da perfeição.
E não nos fiquemos por esta peça,
leiamos já Macbeth, Rei Lear, Othello, Romeu e Julieta,
Sonho de Uma Noite de Verão,
comecemos por estas. Muitos autores prestigiados fizeram jus ao génio de
William Shakespeare. Vamos apenas citar a de um autor seu contemporâneo, Ben
Jonhson, que uma vez disse: «Confesso que os teus escritos são tais que nem
homem nem musa podem louvá-los suficientemente… Alma do século! Aplauso,
maravilha e assombro do nosso teatro! És um monumento em sepultura e viverás
enquanto viver a tua obra e houver inteligências para a ler, e elogios para a
tributar! Contigo a Inglaterra tem alguém a quem mostrar ao mundo, alguém a
quem todos os palcos da Europa prestarão homenagem. Cisne de Avon, tu não
pertences apenas ao nosso tempo, és de todos os tempos». Isto deve ser
suficiente para voltar a ler a sua monumental obra.
19/4/2016
Martz Inura
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