WILLIAM FAULKNER










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WILLIAM FAULKNER
O Som e a Fúria
Tradução de Ana Maria Chaves
Nota de Introdução de António Lobo Antunes
Editora Dom Quixote (291 páginas)



O HOMEM
            William Cuthbert Faulkner nasceu em New Albany, no estado do Ohio, em 25 de Setembro de 1897, e faleceu na localidade de Byhlia, no Mississípi, em 6 de Julho de 1982. Descendia de uma família aristocrática do Sul dos Estados Unidos, naturalmente devastada com a Guerra de Secessão, em que os brancos perderam muitos dos seus antigos privilégios, um dos seus avós era coronel, outro era banqueiro. Abandonou cedo os estudos para ir trabalhar para o banco do avô, mas não ia ser esta a carreira que iria abraçar. Possuía um carácter introvertido, propenso à meditação e à melancolia e começou a escrever poemas e a interessar-se pela literatura. Entrou na Primeira Guerra Mundial, alistando-se na Força Aérea Canadense, por a sua altura, 1,60 centímetros, ser impeditiva de prestar o serviço militar nos EUA. Passou depois por uma universidade do Mississípi, mas por pouco tempo, rumou até Nova Iorque. Teve ali vários empregos, trabalhou numa livraria, foi carpinteiro e carteiro. Casou e começou a publicar os seus primeiros livros. Esteve em Nova Orleães e em Hollywood, onde fazia roteiros e ganhava algum dinheiro. Com o que ganhou em Hollywood comprou uma quinta. Já famoso, viajou pelo Japão, pela França, pelas Filipinas, sendo nomeado Escritor Residente da Universidade de Virgínia (Oxford). Em 1950 era-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura, soube da notícia quando estava a lavrar uma terra. Ganhou ainda dois prémios Pulitzer. Muito tímido continuou a escrever e a proteger-se do mundanismo, do brilho por vezes hipócrita das rodas literárias. Em 6 de Julho de 1962 morreria de complicações cardíacas, tinha então 65 anos.

A OBRA
            A obra de William Faulkner é imensa, constituída por contos, poesias, romances, novelas e até um livro para crianças. Foi roteirista de filmes, e algumas das suas obras foram adaptadas ao cinema. Da sua obra costumam ser considerados três períodos: o primeiro, da formação, que termina em Yellow Book, o segundo o da afirmação com O Som e a Fúria, e o terceiro o da consagração, quando se preocupa mais com a condição humana, em que vai escrever Os Desgarrados. Dos seus romances vão-se destacar:
            A Recompensa do Soldado, Paga do Soldado no Brasil (1926), Sartoris (1929), O Som e a Fúria (1929), Enquanto Agonizo (1930, Santuário (1931), Luz em Agosto (1932), Absalão, Absalão (1936, O Mundo não Perdoa (1942), O Intruso (1948), Uma Fábula (1954), A Cidade (1957), Os Desgarrados (1962). Seja dito que inicialmente os seus romances tiveram mais sucesso perante a crítica do que perante os leitores.


O ROMANCE O Som e a Fúria

- A escola literária da “Corrente de Consciência”, “Fluxo de Consciência”
            O termo vem da Psicologia, de William James, que, para explicar a continuidade do pensamento, que se prolonga na nossa mente sem interrupções, é contínuo e irreversível, inventou a metáfora ”Corrente de Consciência” (no Brasil “Fluxo de Consciência”). Foi pela primeira vez utilizado no seu livro Princípios de Filosofia (1890). Na literatura trata-se de privilegiar os estados de alma que vão acorrendo à consciência no processo narrativo. Claro que isto pode ter muitas nuances. Esta corrente literária foi iniciada por Marcel Prost e seguida por James Joyce, Virgínia Woolf, entre outros, tendo em William Faulkner um dos seus continuadores mais acabados. É mais um processo engenhoso de retratar a vida, os seus divulgadores invocam que com ele se chega mais profundamente na análise da realidade, dispensando o controle do autor, mas há quem invoque que a fiabilidade da narrativa não fica favorecida neste processo, pois o autor acaba sempre por fazer o seu controle, e a própria consciência nem sempre segue um percurso coerente e realista, como podemos verificar nos nossos sonhos.

- Sinopse do romance
            O título desta obra, O Som e a Fúria, foi William Faulkner buscá-lo a Macbeth de Shakespeare, onde escreveu: "A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem significado nenhum". Este romance é difícil de sintetizar, porque, seguindo os princípios literários da escola da “Corrente de Consciência”, está narrado ao sabor da mente, sem qualquer explicação do autor sobre o que se está a passar, num tempo que não é cronológico. O autor como que nos quer vedar desde logo o acesso ao enredo que está a descrever, teremos de ser nós a ter que o ir reconstruindo. Todavia, vão ser dadas algumas noções para o leitor não começar a ler o livro às escuras e o rejeitar logo à partida, já que, principalmente as primeiras duas partes, e todo ele, vêm nublados de omissões. O livro consta de quatro partes, cada uma com o seu narrador, vejamos então um resumo:

            1.ª Parte: «SETE DE ABRIL DE 1928».
            Esta primeira parte é narrada por Benjamim (Benjy), o idiota, que tem dificuldades em falar e recorre frequentemente aos sentidos como o olfacto para expressar as suas ideias. Atenção: ele evoca as recordações da infância no meio dos sucessos que está a viver, mistura o passado com o presente. Vai recordar uma visita a casa do Tio Maury, a ida ao estábulo, a subida às árvores, a sua presença na lareira. Trata-se de uma família com o avô Jason Compson e a avó Caroline Bascomb Compson, a viver na cidade de Jefferson (ficcionada), na Carolina do Sul, no início do século XX. Esta família tem quatro filhos: Quentin, o mais inteligente, que é mandado estudar para Havard; Caddy, uma jovem de quem todos gostam, sexualmente precoce, que se vai envolver com este irmão; Jason, o herdeiro da chefia da família, com mau feitio, machista e ambicioso; e Benjamim (Benjy), atrasado mental, a vergonha da família, que antes era Maury (mais outra complicação). Nesta 1ª parte a Avó está doente, a Mãe é hipocondríaca, e o Pai um homem com pouco pulso para uma família tão problemática. A Caddy, que aqui é recordada quando tinha sete anos, é quem melhor sabe interpretar o irmão deficiente, e por quem todos têm certa adoração, tinha o cheiro de árvore. Mas há um Quentin e uma Quentin, isto é confuso, depois havemos de saber que se trata de tio e sobrinha, ou de pai e filha. E ainda existem os escravos, precedidos pela escrava Disley, a cozinheira, com ascendente sobre todos eles. Os escravos mais jovens, Luster e Versh, os escravos mais velhos que andam já com a caleche, Roskus e T.P. E temos de ter atenção porque ainda há a égua Queenie e os cães Dan e Blue, que o leitor pode cair no risco de os considerar por largo tempo como pessoas. Há saltos cronológicos, motivados por reminiscências súbitas na consciência do narrador, que o itálico às vezes nos pretende prevenir, não deixando o texto de ser desarticulado e confuso. O que vemos aqui é uma família em declínio, a família Compson, acometida pela doença, com problemas de incesto, crianças a quem falta o carinho da mãe, e escravos negros mais ou menos acomodados, que assistem sem desfrutar qualquer gozo a toda esta decadência. O problema das sociabilidades, a nível racial, começa logo aqui a ser equacionado com um rigor quase científico.

            2.ª Parte «DOIS DE JUNHO DE 1910»
            É narrador nesta parte Quentin, o filho mais velho da família Compson, neurótico, niilista, obcecado pela irmã Caddy. O romance continua a ser difícil, esta é talvez a parte mais complexa e ininteligível do livro. Ter em atenção o autor mais para o fim desta parte não usa travessões, apenas parágrafos para fazer o discurso directo, e falha com a pontuação onde ela seria necessária para o texto se tornar obtuso. E como estes entraves à compreensão não bastassem, ele introduz-lhe evocações da consciência, por vezes em itálico, e deixa as frases por concluir: «Fora fora delas mas. Amarelas» (página 12), ou usa aqui e ali texto substantivado, sem verbos ou conjugações que lhe dêem significado «…porta eu não tenho medo só Mãe Pai Caddy Jason Maury chegaram tão longe dormindo que eu adormecerei depressa quando porta Porta porta». (Sic, página 163). Repare-se que o autor anda para traz na sua narrativa, estávamos em 1928 e regressámos a 1910, dezoito anos antes. O pai quis que o seu filho mais velho tentasse recuperar o prestígio da família, que descendia de um antigo governador: «… vamos vender as pastagens do Benjy para que o Quentin possa ir para Havard» (página 163). Aparecem novos personagens como Shreve, Spoad e Gerard. Há cenas na escola, num café, numa loja de ferragens, uma pescaria. Constata-se que está marcado o casamento entre Candace (Caddy) e Sydney Herbert. A relação incestuosa entre Quentin e Caddy vai sendo esclarecida. Ele ama a irmã, é contra aquele casamento. Mais tarde para defender a sua inocência confessa mesmo ao pai: «Cometi incesto disse eu Pai fui eu não o Dames Dalton» (Sic, página 78). Porém o Pai não acredita nele, embora a Mãe e Jason posteriormente manifestem as suas suspeitas. Quentin anda desvairado, mete-se em confusões, tenta raptar uma criança, talvez seja pedófilo. Há uma cena de pancadaria e vai seu presente a um juiz que o liberta. Mas não fica bem tratado, está a sangrar. Suicidou-se, mas isto só pode ser deduzido mais à frente na 3.ª e 4.ª parte. Temos de ter a paciência de ir registando o que lemos, ainda que não dê para perceber tudo o que se está a passar.    

            3.ªParte «SEIS DE ABRIL DE 1928»
            Nesta fase do livro a narrativa já é mais regular, mas mesmo assim tem hiatos e imprecisões a enevoá-lo. É narrada um dia antes da 1.ª Parte, e por Jason, o «digo eu», aqui já um homem, investido no papel de chefe de família. Tem uma personalidade maléfica, é vingativo, machista, racista, cínico, só vê dinheiro à frente. Também não regulará bem, pois dói-lhe frequentemente a cabeça, a ponto de andar sempre a tomar comprimidos. Já tem automóvel, anda a jogar na bolsa, diz mal dos ianques e dos judeus. Não pensa em casar, das mulheres só uma tal Lorraine o terá conquistado, pudesse ela ser «uma puta». Surgem-nos agora mais actuantes o Quentin e a Quentin. Bem, já é mais perceptível, trata-se da filha ilegítima de Caddy, uma jovem já crescida, que anda com rapazes e não gosta de ir à escola. Caddy ficou pela cidade, sabe Deus o que anda a fazer, e é ele que agora toma conta dela. A sua rebeldia preocupa Jason, que não quer que ela desonre mais uma vez a família. Mas ele já tinha dito ao iniciar esta parte: «Quem nasce puta morre puta» (pagina 169). Nesse dia obriga-a mesmo a ir à escola. Jason trabalha num armazém, onde tem a companhia de Earl. É referida aqui a perseguição de automóvel que ele faz a Quentin, que anda a expiar. Aparece Caddy, e lemos um diálogo entre Caddy e seu irmão Jason. Este exige dinheiro para a deixar a irmã ver a filha. Já se tinha visto atrás como ele era desonesto, ao roubar dinheiro à mãe e a pensão da sobrinha, vingativo, hipócrita, e aqui dá para ver como é chantagista, e mais tarde sádico, quando põe ao lume os bilhetes de um espectáculo que podia dar a negros, que os pediram, e com a maior das indiferenças. Só os vendia, nem que fosse por cinco cêntimos. É aqui que se sabe que Quentin já tinha morrido: «Alguém tinha colocado também um ramo de flores na campa do Quentin» (página 188). E que o casamento de Caddy não dera certo: O marido Herbert ao encontrá-la já grávida «pô-la fora de casa» (página 203). Quase no fim desta parte podemos analisar a chegada a casa de Jason e ver melhor relacionamento de toda aquela família.

4.ª Parte «OITO DE ABRIL DE 1928»
            Nesta quarta parte é o autor que toma a palavra, e como se diverte a exercer o seu mister, assumindo-se como um escritor clássico, ainda que continue a não explicar muito bem o que se passa, leva apenas o leitor a se situar melhor naquela história, e este é o quarto dia, e último. A narrativa é do dia seguinte ao da primeira parte. Vamos dar com a velha escrava Disley a falar com Mrs. Caroline, a Mãe. É Domingo de Páscoa, todos dormem até tarde. Segue-se um diálogo difícil de Mrs. Combson com o filho Jason. Ele acordou irritado por terem partido um vidro da janela do seu quarto. Disley discute com Luster, não vá ter sido ele a fazer aquilo. Este vai fazer uma fogueira e tratar do Benjy. Segue-se outra discussão ente Disley e Jason, com ela a tentar inocentar aquele. Mrs. Compson dispensou Disley para ir à igreja, o filho não gosta. Estão a tomar pequeno-almoço, chamam pela Quentin e ela não aparece. Surge então um estranho pressentimento a Jason de que ela terá fugido. Vão ao quarto, e depois de o abrir recorrendo a um molho de chaves, dá com ele vazio. Jason facilmente descobre que ela tinha fugido e levado 3000 dólares. Disley com Frony, sua filha e o neto Luster, e ainda Benjy vão à igreja ouvir o Reverendo Shegog. De início ele parece desiludi-los, é um velho negro com cara de macaco e roupa coçada. Depois ficam maravilhados, quando começa em falar com o sotaque dos brancos, e ainda mais quando o muda para o dos negros e diz: «Eu trago a” rêcordação” e o sangue do Cordeiro», e «Eu vi o princípio e o fim». Só eles percebiam bem o sentido comovente daquelas palavras. Quando chegaram a casa Mrs. Compson já sabia que a neta tinha fugido «Ela devia ter tido por mim a consideração de deixar um bilhete». Até o Quentin deixou», (página 273). Jason já tinha telefonado ao xerife e vai ter com ele à cidade para fazer a denúncia do roubo, mas ele não vê cobertura na lei para ir no encalço da sobrinha. Jason vai então à procura dela a uma terra vizinha, para onde se mudou o espectáculo de circo. Envolve-se em confusões mas não a encontra. Por casa dos Compson, a velha escrava Disley, transformada em matriarca da família, continuava a tratar com uma generosidade comovedora o deficiente mental Benjy, que ainda trata por você, enquanto ele choraminga por todo o lado, cada vez mais dependente, ainda recordando a sua Caddy. É Disley que agora mantém as aparências daquela família. Luster vai dar uma volta com a caleche até ao cemitério dos brancos levando Benjy (Ben) com a cavalgadura Queenie, que já sabe o caminho de cor. Passa por dificuldades em segurar o freio e é ajudado por Jason, que por acaso estava ali. Seguem para casa com o Ben de olhos vazios, azuis e serenos, mas, pelo que tínhamos visto antes, guardariam para si todas as misérias do mundo. … Bem, agora que leu o livro já o pode começar a reler, para tentar perceber: «É mesmo engraçado; trinta e três anos e a portar-se desta maneira» (pagina 11), no início do livro. Quem será? Será Benjamim?..  

- Apreciação final do romance
            O romance, sobretudo nos primeiros dois capítulos, tem um enredo nebuloso, quase incompreensível. A descrição é precisa, sim, quase fotográfica, mas a história é dúbia, pois o narrador está a descrever as coisas tal como as está a ver, como se nos estivesse a descrever um filme, e ele já sabe muito delas, ao contrário de nós, pobres leitores, que temos de nos pôr a adivinhar. Será esse o seu objectivo, vale bem a pena ler o livro. O autor escreve na presunção de já pertencermos àquela família, de conhecermos os seus antecedentes, mas ele sabe que não é o caso. Temos de confessar que no início a leitura é pesada, mesmo fatigante, sentimo-nos num mundo estranho, meio cegos, não percebemos frequentemente o que se está a passar. Por exemplo, quando Benjy se refere a Dan não percebemos logo que se trata de um cão, por momentos pensámos que será uma pessoa, e o mesmo a Queenie, que será uma égua; quando fala de Luster não diz que ele é escravo, não fala da sua relação com Frony, nem com Disley, a não ser ao fim (mãe e avó). E depois, sem qualquer explicação, um Quentin e uma Quentin! Nós, leitores, se gostamos mesmo de literatura temos de ir recolhendo elementos para mais tarde destrinçarmos toda esta trama. Todavia, as descrições são conviventes, mesmo quando incide no discurso directo nós podemos não perceber bem o enredo, pois falta-nos os antecedentes para a interpretarmos, mas cremos no que nos estão a dizer, como se tratasse neste particular de qualquer forma nova de hiper-realismo. William Faulkner dá-nos apenas um vislumbre dessa família, que “visita” por quatro vezes em quatro dias diferentes, e que nem sequer são sequenciais, saltitam no tempo. Contudo, não são escolhidos ao acaso, eles terão de ter um significado, o leitor que o tente descobrir.
            O seu estilo literário, baseado nos princípios da chamada “Corrente de Consciência», é bastante complexo, utiliza longos parágrafos, uma pontuação irregular, nem sempre recorre a travessões no discurso directo, e às vezes, como na página 161 e seguintes, sinaliza-o com parágrafos forçados. Há orações que ficam a meio, como se a personagem se esquecesse do que estava dizer, aqui e ali põe uma série de substantivos uns a seguir aos outros sem elementos gramaticais que lhe dêem sentido, ignorando a sintaxe. E para tornar a interpretação mais vasta a narrativa tem sequer um único estilo, mas quatro estilos, pois tem quatro narradores, cada um com a sua personalidade. O autor como que vai tirando de cada uma das quatro partes do livro retratos específicos da realidade, quais camadas de texto, que só uma vez sobrepostas é que irão dar um sentido à história, que ainda assim não será inteiramente esclarecedor. E não se pense que o livro está mal escrito, o romance tem muita elaboração, o objectivo do autor foi mesmo esse, o de pôr o leitor à descoberta do que se passou com aquela família do Estado da Carolina do Sul, que já teve ascendentes governadores e generais, e que agora está em plena decadência. Assim como das famílias que conhecemos, e de que temos curiosidade, não sabemos tudo, e aos poucos vamos sendo surpreendidos com mais algumas dicas, assim acontece com O Som e a Fúria. Ele confessou algures que tentara aqui fazer o impossível e não conseguira. De facto, não conseguiu escrever uma história que se revelasse inteiramente por si própria, mas escreveu um livro desafiante e belo, capaz de abrir as portas à nossa imaginação.
            Porque a vida é difícil de abarcar em toda a sua complexidade, e, raramente é tão linear como a maioria de os escritores a retratam, este é um romance difícil que nós não recomendaríamos a ninguém sem que antes tomasse uns apontamentos sobre o seu enredo. A não ser que o queira ler muitas vezes. De início William Faulkner teve dificuldade em fazer publicar os seus livros, e receio que não conseguisse editar facilmente este em países como a Bulgária ou Portugal, para só citar estes, em que não seria compreendido e não teria grupos de influência à sua volta para o legitimar. Felizmente este romance sobreveio, e ele aqui está a marcar a literatura do século XX, como um farol de luz modernista, projectando novos processos narrativos para os vindouros. Para se chegar ao âmago deste livro, excepcional, não basta lê-lo é preciso estudá-lo. Há nele laivos de ironia, um humor cáustico, sobretudo quando trata do racismo. Tem uma construção curiosa, complexa, original. Vai-se acabar com a transcrição do escritor António Lobos Antunes, que admira o autor, sabe do que fala, e nesta 5.ª edição das Publicações Dom Quixote faz uma Nota de Introdução: «O Som e a Fúria possui a qualidade de ser um romance que, tal como a grande poesia, se relê no maravilhamento da descoberta: a todo o passo damos com pormenores que nos haviam passado despercebidos, em cada página nos emocionamos. Já visitei este livro mais de 30 vezes, e continuarei de certo a fazê-lo com o mesmo deslumbramento e o mesmo entusiasmo».

22/01/2016



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