MÁXIMO GORKI
A Mãe
EDIÇÕES AMIGO DO LIVRO. LISBOA
O
HOMEM
Máximo
Gorki, pseudónimo
de Alexei Maksimovich Peshkov, nasceu em Nizhny, Novgorod, em 28 de Março de 1868,
e morreu em Moscovo, em 18 de Junho de 1936. Era filho de um modesto marceneiro.
Perdeu os pais muito cedo e teve que ir viver com os avós. A avó, ao contrário
do avô, era muito carinhosa, ensinou-lhe a ler, deu-lhe muita da sua vivência.
Mas ela morreu, e ele passou a ter a dificuldade nos seus estudos por ser pobre. Teve que se fazer à vida e andar de lado para lado
pela Rússia czarista, fugindo à norma, até ao ponto de não ser bem visto pelas
autoridades. Muito precoce, começou a escrever aos doze anos. Dormia onde
calhava, em palheiros, casas abandonadas, em albergues de mendigos, sempre
a ler. Aos 19 anos tentou suicidar-se com um tiro, mas foi mais forte do que a
bala, que se alojou nos pulmões. Foi sujeito a assédio da polícia, a prisões,
mas isto não o impediu de em 1902 ser eleito como académico honorário. Eleição
que foi interrompido pelo protesto de outros escritores afectos ao Czar. O seu
primeiro conto Makar Kudra (1896)
teve muito sucesso, e com as peças de teatro subversivas, Os Filhos do Sol (1905), Os
Bárbaros (1905) e Os Inimigos
(1906) obteve o respeito dos seus confrades escritores. Com a Revolução Russa
de 1905 sentiu-se perseguido e emigrou para os Estados Unidos. Ainda esteve na
França e na Itália. Com a Primeira Grande Guerra regressa à Rússia. Participou
na Revolução de 1917, mas esta teve os seus desmandos, ele ainda tentou
salvar escritores livres e aristocratas amigos. Não seria aquela revolução que
ele tinha sonhado, e em 16 de Outubro de 1921 volta a emigrar, indo para a
Alemanha, e depois para a Checoslováquia e Itália. Oficialmente diz-se que apanhou
uma tuberculose pulmonar, e que Lenine o mandara curar-se ao estrangeiro. Durante
esse tempo ele foi viajando e escrevendo os seus livros, com os quais angariou
proventos e prestígio. Apesar das suas andanças casou três vezes. Mais tarde, em
1928, aceitou um convite para fazer uma visita ao seu país. Face à boa recepção que teve, em 1933 volta com o intuito de ali
ficar definitivamente. Era amigo de Lenine. Consegue então reunir o primeiro
congresso dos escritores soviéticos. Ele queria que encontrassem uma nova
fórmula para o realismo socialista. Porém, entre ele e a nova União Soviética
havia algumas contradições difíceis de ultrapassar. Oficialmente ele morreu de uma
pneumonia, quando fez uma visita de rotina ao hospital. Os médicos que o
trataram foram acusados de estarem ao serviço da contra-revolução e foram
condenados, mas há quem avente que foi Estaline que o mandou envenenar, dado
peso que estava a ter no país. No funeral Estaline beijou-lhe as mãos, mas isto não significa
nada para um ditador maquiavélico, é apenas mais um ingrediente eficaz para o aniquilar. Contudo, o facto ainda não
estará provado.
A
OBRA, A MÃE
Máximo Gorki escreveu mais de uma
trintena de livros, ele foi romancista, dramaturgo, contista, biógrafo, deixou
diários. Vão aqui ser apenas citadas algumas obras, que talvez consiga
encontrar por aí, disponíveis:
- Pequeno Burgueses (1902) (Peça de teatro)
- A Mãe (1906)
- A Vida de um Homem Inútil (1908)
- A Minha Infância (1913)
- Ganhando o Meu Pão (1915)
- A Minha Universidade (1923)
- A Família Artamanov (1925). No Brasil A Casa dos Artamanov
Breve resumo do livro
Vamos fazer um resumo mínimo, só os
capítulos não ficarem reduzidos a um número, e o leitor se poder situar na
leitura. Mesmo assim é uma autêntica cartilha revolucionária:
I Parte:
I
– Descreve-se a vida de uma cidade russa, com as pessoas tristes, meio
assustadas. Fala de operários e de uma fábrica. Tinha acabado o trabalho
forçado mas a vida continuava penosa. II – Evoca-se a vida da família de Miguel
Vlassov, homem violento, que ainda novo morreu, e da sua mulher, Pelágia
Nilovna (a mãe neste romance), e de seu filho Paulo Vlassov. III – Apresentação
de Paulo Vlassov. Um dia aparece embriagado em casa. Meio perdido, parece não
crer em nada. IV – É então que começa a ler livros proibidos, quer descobrir a
verdade, para espanto da mãe. V – Há uma primeira reunião conspirativa na sua casa,
a que a mãe dá cobertura, com André Nakhoda, também chamado pequeno russo,
Natacha Vassilievna, Nicolau Vessovchicov e Teo Manzine. VI – Aqui se reúnem os
conspiradores, que discutem em política busca de um mundo onde reine o amor
fraternal, embora reconheçam que aquilo que de mais perto os espera será a
prisão. VII – Durante meses as reuniões continuaram em casa da mãe, em que novos
camaradas vão aparecendo. Paulo diz-se socialista, e acha que é preciso um
jornal para difundir as suas ideias. Há uma conversa aturada de Sandrina com Paulo.
VIII – A mãe é alertada por uma vizinha para a vida estranha do filho. André
Nakhoda, o pequeno russo, está agradado por Natacha, Paulo considera aquela
relação perigosa. IX – Dizia-se na cidade que aquele bairro era socialista, consta-se
que a polícia vai fazer uma rusga às casas da mãe, de Teo Mazine e de Nicolau
Vessovchicov. Eles crêem que estão do lado da verdade, mas têm medo. X – A
polícia faz as suas buscas e é preso André Nakhoda, o pequeno russo. XI – A
situação entretanto agrava-se. Soube-se no outro dia que foram presos cinco
camaradas, entre eles Ivan Bukine e Tiago Samov. Conversam e falam sobre
Cristo. Muitos não crêem em Deus. XII – Há cada vez mais reuniões na casa dos
Vlassov, portanto, da mãe de Paulo. São contra que na fábrica se desconte um
copeque aos trabalhadores para se secar um pântano. Intervêm mais violentamente
Rybine e Sizov. A situação complica-se e eles ameaçam com uma greve. XIII –
Continuou a reunião subversiva, Paulo era favorável à greve, achava-a justa,
mas Rybine era contra, por ela não lhe parecer viável. Chamam a polícia e Paulo
é preso. XIV – Igor Ivanovitch vem a casa da mãe e conforta-a. Era preciso
continuar a distribuir os folhetos para a polícia pensar que não era Paulo que
os distribuía. XV – Na fábrica os operários confortam e mãe e perguntam por
Paulo. Ela anda aborrecida, Igor Ivanovitch nunca mais lhe arranja folhetos e
manifestos para ela distribuir. Até que por fim aparece em casa uma tal
Sandrina com eles. É então que ela sai e ele lhe confessa que ela e Paulo se
amam. XVI – Foram presas mais de cem pessoas na cidade. André Nakhoda é
libertado, mas Paulo continua preso. A mãe conseguiu introduzir os panfletos na
fábrica. XVII – Os operários da fábrica estão a ser subvertidos pelos
panfletos. A mãe começa a ler os livros de Paulo às escondidas. XVIII – Em sua
casa, a mãe recebe Rybine e falam de onde vem o dinheiro para fazer a
subversão, porque os folhetos custam dinheiro. Ele diz que são ricos que estão
do seu lado, têm de confiar neles, há gente boa em todas as raças e classes.
XIX – Finalmente a mãe visita o filho na prisão. XX – A mãe está em casa com
André Nakhoda e Nicolau Vessovchicov, conversam sobre a situação. Nota-se que
há entre eles um conflito de gerações. XXI – Os folhetos continuam a ser
distribuídos, mas há espiões por toda a parte, informadores como Isaías, que o
povo odeia, que tentam descobrir a rede. Nicolau Vessovchicov é despedido da
fábrica e arranja outro emprego. XXII - Paulo Vlassov regressa à casa da prisão,
para alegria da mãe. XXIII – Aproxima-se o 1º de Maio, dia dos trabalhadores,
Paulo Vlassov quer ser o porta-bandeira do partido. XXIV – Mataram Isaías,
informador da polícia. XXV- Fala-se da opressão, do ódio que se gera no seio
dos trabalhadores. XXVI – Prepara-se o 1º de Maio. Nicolau, Basílio, Gussev,
Samoilov, Teo, além de Paulo encabeçarão a marcha. XXVII – Dá-se início à
marcha do 1º de Maio. Ma rua surge a polícia montada a obstruir a passagem.
XVIII – Há intervenção da polícia e tumulto junto da bandeira do partido. Paulo
Vlassov e André Nakhoda são presos. XXIX – A polícia manda evacuar a rua, a mãe
(Pelágia Nilovna) leva a bandeira e os restos do pau para casa.
II Parte
I – A residência da
mãe é agora muito vigiada, e Nicolau Vessovchicov leva-a para sua casa, na
cidade. II – Para que ela se sinta à-vontade chama lá para casa a irmã, Sofia, também
envolvida na política. III- Nicolau e Sofia trocam palavras com a mãe, pedem para
ela os ajudar a difundir o jornal na região. IV – Sofia e a mãe saem distribuir
livros e jornais, mas ainda é longe. A jovem fala da sua actividade
revolucionária, diz que anda com um bilhete de identidade falso para fugir aos
espiões. V- Ao fim de três dias as duas chegam a uma fábrica de alcatrão com a
carga. Recebem-nos Rybine, Efime, Ana Ivanovna. VI – Sofia e a mãe entregam a
propaganda do partido, dão-se conta da miséria em que os trabalhadores vivem, e
constatam a doença de Saveli. VII – A mãe regressa a casa de Nicolau
Vessovchicov, onde se recebe muitas visitas. Lamenta que o julgamento do filho
demore tanto. VIII – Pelágia Nilovna passa a ter uma intervenção mais activa na
subversão –, distribuiu livros, jornais, folhetos, manifestos. IX – Fugiu
alguém da prisão, para desgosto da mãe era Nicolau Ivanovitch, não o Paulo. X –
Nicolau Ivanovitch está preocupado com Igor, que está muito mal. Chamam o
médico, mas ele morre. XI – A mãe envolve-se no funeral de
Igor. Sandrina e Nicolau Vessovchicov discutem. XII – No funeral a polícia
manda cortar as fitas vermelhas do caixão. Alguém tenta discursar junto da campa, mas
a polícia não o permite, o orador insiste e é preso. XIII – Depois do funeral,
já na casa de Sofia acolhem João, que foi gravemente ferido nos tumultos do
funeral. Sugerem um cálice de vinho de Porto para ele ficar melhor. XIV – A mãe
vai de novo visitar o filho Paulo à prisão. É proibida pela polícia de falar
ali de política. O filho é agora olhado pelos trabalhadores com respeito. XV –
Rybine faz uma intervenção acalorada aos trabalhadores. Para os atrair, trata-os
por cristãos. A polícia intervém e ele é detido. XVI – Junta-se uma multidão a
defender Rybine, chega o comissário da polícia rural que lhe manda atar as mãos,
e à força o faz conduzir à prisão. XVII – A mãe vai entregar uma mala de livros a
Pedro, um camponês, e fala da luta pela liberdade, da violência da polícia, da
opressão do operariado. XVIII – A mãe conversa longamente com Pedro e Tatiana.
Quer distribuir os livros pelo povo, que não acredita em nada. Era preciso
difundir as ideias de razão, liberdade e verdade. XIX – A mãe chega a casa de
Nicolau Vessovchicov, que foi despedido. A casa está virada de pernas para o
ar, foi vasculhada pela polícia, porém, não o prenderam. XX – Na fábrica de
alcatrão são presos cinco operários, só Inácio conseguiu escapar e veio refugiar-se
na casa onde está Pelágia Nilovna. XXI – A mãe apoia Inácio que nessa tarde vê
Nicolau Vessovchicov numa cave. Este dá-lhe uma senha para ir para outro lugar
mais seguro. XXII – No domingo seguinte a mãe vai visitar outra vez o filho
Paulo. Ele passa-lhe uma bolinha de papel entre os dedos, onde escrevera uma
carta a dizer os motivos porque não ia tentar a fuga – era por respeito a si
mesmo. XIII – A mãe, Nicolau Vessovchicov e Sandrina vão apoiar a fuga de Rybine
da prisão. XXIV – Início do julgamento de Paulo Vlassov, André Nakhoda e dos
outros. A mãe está presente. Faz-se a identificação dos réus. O procurar inicia
a acusação. Bukine faz demasiado barulho e é expulso da sala. XXV – Continuação
do julgamento, aos familiares foi pedido para que mostrassem os bilhetes de
entrada. É a vez de os réus começarem a falar. Alguns nem sequer queriam
defensor. Chegou o momento de Paulo Vlassov falar, o que ele fez eloquentemente,
a ponto de ser tolerado pelos juízes. A mãe estava orgulhosa da sua
intervenção. XXVI – O Juiz presidente (velho) faz uma pergunta final a cada
réu: Paulo Vlassov, André Nakhoda, Gregório Samoilov, Teodoro Mazine, João
Gussev, Básilo Gussev, Teodoro Bukine, A alguns o juiz tira-lhes a palavra, e
outros recusam-se a falar. O procurador e os advogados de defesa fazem as suas
intervenções. Seguidamente os juízes saíram para lavrar a sentença,
pressupõe-se que seria três: o juiz-presidente, que era velho, o juiz-vogal, e
o juiz-auditor (obeso). As pessoas que assistem ao julgamento descontraem uns momentos, mas pouco
depois são chamadas para ocuparem os seus lugares: vão ser lidas as sentenças. Os réus são
todos condenados à deportação. XXVII – Quando a mãe sai do tribunal, cá fora já
é noite. Segue para casa e ouve alguém gritar: “Viva o operariado!”. Já em casa,
Nicolau Vessovchicov diz que é perseguido por dois espiões. Fala com Sandrina.
Tem ali o discurso de Paulo Vlassov feito no tribunal, a sua bela defesa, e quer que ele
seja impresso e distribuído pelos operários e camponeses. XXVIII – A mãe fica
em casa com Ludmila. Está orgulhosa da defesa do filho. Sonha com um mundo mais
fraterno, filho de um novo Deus. Vem ali o médico e traz 500 cópias do
discurso, que a mãe quer levar a Natacha. Souberam que Nicolau Vessovchicov
também fora preso. XXVIX – A mãe (Pelágia Nilovna) segue com uma mala para
Moscovo, a fim de a entregar a Natacha. Aproxima-se alguém de si, ela não
desconfia de nada. Para num banco na estação de comboios. Só depois se apercebe
que é a guarda atrás de si. Pensa em abandonar a mala e fugir, mas num rebate
de consciência resolve ficar. O guarda então interpelou-se, chamando-lhe ladra.
A mãe respondeu que não era ladra nenhuma, que ia levar aqueles papéis a
Moscovo. Uma multidão achega-se e tira-lhe alguns folhetos que guarda nos bolsos.
Sente-se apanhada. Põe-se então a discursar, dizendo que a pobreza, a fome e a
doença é a paga que o povo tem pelo seu trabalho. É detida mas continua a
barafustar, gritando: “Não é com sangue que se tapa a verdade”. A polícia tenta
dispersar a multidão. Mais à frente a mãe ainda grita: “Vocês só recolhem o ódio,
e o ódio há-de cair-vos em cima”. Um polícia agarra-a pela garganta e leva-a
finalmente para a prisão.
Principais Personagens
A
mãe, Pelágia Nilovna: É a personagem principal do romance, sente-se a mãe
de todos os revolucionários, personifica a Mãe Rússia. É a mãe extremosa de
Paulo Vlassov, e vai acompanhá-lo na sua luta. Começa a ler livros proibidos. Associa o vigor
revolucionário à crença cristã de um mundo melhor. Apoia as
acções dos proletários revolucionários, que acolhe inicialmente em sua casa. Depois
vai viver para a cidade, para casa de Nicolau Vessovchicov, quando se sentiu muito apertada
pela polícia.
Paulo
Vlassov: Filho de Pelágia Nilovna, a mãe, é um jovem, órfão de pai, que
começa a ler livros proibidos e chega a outras verdades, tornando-se o
revolucionário mais poderoso do romance. Personifica o herói revolucionário, destemido, com espírito de sacrifício. É ele o porta-bandeira do partido. No
julgamento dos revoltosos, a sua defesa foi a mais consistente, acabando por ser difundida pelos camaradas. Foi
deportado para a Sibéria.
André
Nakhoda: Um jovem que parecia tártaro, a quem, chamavam o Pequeno Russo. Vivia
em casa de Pelágia Nilovna, de quem se tornou quase um filho. Tem algum papel
na morte do espião da polícia, Isaías. Representa o herói subterrâneo do
romance. Foi um dos que foram condenado a deportação para a Sibéria.
Rybine:
É um operário vizinho da mãe. Sofre na pele a miséria do proletariado e faz subversão na fábrica. Inicialmente
era temeroso, tinha receio que a greve não resultasse. Com o tempo tornou-se mais
determinado e acaba por ser preso, porém, consegue fugir.
Nicolau
Vessovchicov: Pessoa com alguma formação. Tem uma casa na cidade, onde abriga a mãe, quando ela é
obrigada a sair do seu bairro. Tem uma grande intervenção na causa proletária
da sua cidade. Por fim também é preso.
Sandrina:
É filha de um proprietário rural e namorada de Paulo Vlassov. O pai não concordou com aquele namoro. Dá contributos
importantes para a subversão do operariado com a difusão da propaganda que faz.
Sofia:
É irmã de Nicolau Vessovchicov, Muito interventiva na difusão da propaganda, acompanha
Pelágia Nilovna, a mãe, quando ela vem viver para casa do irmão.
UMA
APRECIAÇÃO GERAL DESTE ROMANCE
Sob o ponto de vista político, A Mãe será uma obra revolucionária, que serviria
como matriz para a Revolução Russa de 1917. Ela retrata em pormenor o mal-estar
dos operários e camponeses, esboça as primeiras manifestações de
descontentamento, explica como se iniciam e formam as células revolucionárias nas
fábricas, no campo e na cidade. Fala dos livros proibidos, afinal, aqueles que
contêm a verdade e clamam por justiça. Descreve a forma de fazer reuniões e a
maneira de se escapara à polícia, introduz o uso das senhas, da identificação
falsa, da vida clandestina. Refere-se à repressão policial, à fuga das prisões,
aos julgamentos em tribunal .Fala da importância da propaganda, e da maneira
como ela é feita. Aproveita-se do Dia 1º de Maio para dar publicidade à sua
organização, robustecer o seu peso político, chamar à atenção das injustiças
sociais. Do mesmo modo explora a morte de um dos seus camaradas para agitar as
multidões. Ao fim os principais cabecilhas são condenados à deportação, mas
alguns sentem nessa condenação uma certa alegria revolucionária, baseada nas
suas ideias salvíficas. Até ao fim a própria mãe é presa, e ela não quer ser
presa como ladra, mas parece ter orgulho de ser levada com revolucionária.
Sob o ponto de vista literário, o
livro impõe-se sobretudo pelo seu realismo feroz. Os acontecimentos são narrados sem
artificialismo, como se resumissem à mera descrição dos factos. As personagens são
vivas e vigorosas, parecem encarnar o sofrimento das vítimas da opressão e a
força libertadora dos profetas, dos revolucionários. O romance compõe-se de
duas partes, cada qual de 29 capítulos, através dos quais o autor vai fazendo
evoluir a história, que tem muitas personagens, mas um fio condutor.
Explora o conflito entre a antiga sociedade cristã, conservadora, arcaica, e
uma nova sociedade, que eles querem criar mais fraterna, filha de um novo Deus –, é um romance proletário .
Acusam por vezes o autor de ser um tanto ingénuo ao escrever este romance, mas
ingénuas serão as personagens de todas as revoluções, sempre confiadas,
sonhadoras. Os leitores ao lerem estas páginas, mais do que lerem um livro
revolucionário, conseguem perceber aquela sociedade, estagnado no passado, que
era preciso reformar –, tão empedernida que só uma revolução a conseguiria
tirar daquele marasmo. Digamos, enfim, que eles não tinham outra saída. E hoje
podemos ver que ele tinha a sua razão: Já em França, com os desequilíbrios
sociais que se criaram com Luís XIV, e o fausto da sua Versalhes, levaram à
Revolução Francesa de 1789. Pois estes desequilíbrios sociais e económicos da
Rússia, vinda de Pedro I, o Grande, com o fausto dos palácios de São
Petersburgo, levariam a sucessivas revoltas, culminando na Revolução Russa de
1917. Ele romance faz a transição entre a anterior literatura monumental de
Tolstoi e Dostoievski, para a futura literatura comunista soviética, com forte controlo
ideológico. A Mãe de Máximo Gorki é
uma obra obrigatória para se compreender bem a Revolução Russa de 1917, vista
do lado dos operários e camponeses.
02/11/2017
Martz Inura
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